A Rede de Jornalistas Pretos pela Diversidade na Comunicação lançou, nesta quinta-feira (27), o “Manual de Boas Práticas Antirracistas para a Comunicação Digital”, para ajudar profissionais da comunicação a adotar práticas inclusivas, antirracistas e responsáveis em suas produções.
O material, que é gratuito e pode ser baixado em formato PDF no site da Rede JP, foi desenvolvido em parceria com o Instituto de Referência Negra Peregum e com apoio de instituições como a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e a Cátedra de Comunicação da Unesco.
A autoria é de Marcelle Chagas, jornalista e coordenadora da Rede JP, e Denise Mota, editora da AFP (Agência France Press) e colunista da Folha.
Denise conta que o ebook é um material de fácil acesso que reúne informações sobre temas relacionados à justiça social.
“Penso nas pessoas que estão chegando no jornalismo agora, nos influencers e nos jornalistas que não estão familiarizadas com temas de diversidade, mas precisam escrever sobre isso. Como faz? São tantos termos, tantos conceitos, tantas discussões, e nós temos pouco tempo”, diz.
Segundo ela, o tema exige conhecimento e leitura prévios. Por isso, o manual apresenta um resumo das principais discussões relacionadas ao debate racial com linguagem acessível.
O material também apresenta verbetes explicando termos como “Woke”, “identitarismo”, “racismo”, “interseccionalidade”, “decolonialidade” e “branquitude”. Com isso, a produção pode ser usada como uma espécie de dicionário, a ser consultado para tirar dúvidas e refrescar a memória.
No final do manual, há uma bibliografia com todos os autores citados, para convidar o leitor a ampliar seu conhecimento. “A ideia é ser uma porta de entrada”, explica.
As autoras reconhecem que o lançamento acontece no momento em que as discussões raciais estão sob ataque.
“Estamos desenvolvendo esse projeto há mais de um ano e, à medida que as coisas foram acontecendo, a gente percebeu que não há um momento melhor para o lançamento do que agora”, afirma Denise. “A gente precisa sair do terraplanismo racial para voltar a conversar de forma informada, com base em conceitos sólidos.”
Elas atualizaram partes do material e conseguiram incluir os primeiros dias do governo de Donald Trump e a revogação de programas de diversidade nos EUA na introdução do ebook. Para Denise, além de promover um debate informado, o material contribui para o combate à desinformação.
“Esse material não é apenas para quem trabalha com jornalismo, mas para quem trabalha com comunicação. Buscamos amplificar essa conversa com boas práticas no universo digital, que reverbera também no ambiente offline”, afirma Marcelle.
O material apresenta ferramentas e dicas para uma comunicação antirracista. Ações como diversificar fontes e conteúdos, contextualizar os fatos e avaliar que mensagem está sendo passada são algumas das sugestões.
No evento de lançamento, em São Paulo, houve um debate com a participação dos jornalistas Lívia Lima, cofundadora da Agência Mural e do Nós, Mulheres da Periferia, Pedro Borges, cofundador do portal Alma Preta, Cíntia Gomes, diretora institucional e cofundadora da Agência Mural, Verônica Lima, coordenadora de comunicação da Ajor, e Flávia Lima, editora de Diversidade e Secretária de Redação da Folha.
Eles debateram temas como as mudanças no cenário digital, boas práticas para a comunicação antirracista, representatividade na mídia digital e estratégias para a promoção da justiça social.
O encontro também foi marcado pelo lançamento do GriôTech, criado pelo Instituto de Referência Negra Peregum em parceria com a Mozilla Foundation.
Inspirado no papel do Griot para as culturas africanas, o projeto visa promover a equidade digital e a justiça racial no ecossistema digital, ampliando a participação de populações historicamente excluídas nos debates sobre regulação da internet, transparência algorítmica e combate à desinformação.
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