A jornalista Alexandra Moraes, 43, teve seu mandato de ombudsman da Folha renovado por um ano. Assim, seu segundo período no cargo, que se define pela missão de representar os leitores, vai até maio de 2026. Ela é a 15ª profissional a exercer a função, sendo a sétima mulher.
Nesse período como ombudsman, ela identifica dois problemas principais do jornal, que espelham as reclamações mais frequentes dos leitores. O primeiro deles é a qualidade do texto. “É preciso ampliar os mecanismos de controle de texto, com uma direção institucional nesse sentido”, diz. “Isso afeta a experiência do leitor e a impressão sobre o jornal.”
A segunda queixa mais recorrente se refere a transtornos com a assinatura, como a dificuldade de cancelamento e a entrega do jornal impresso. Mesmo que não seja atribuição direta da ombudsman, Alexandra afirma ter escolhido tratar de assinatura, porque, segundo ela, o tema também faz parte da experiência do leitor.
A palavra “ombudsman” tem origem sueca e significa representante do cidadão. Nos anos 1960, a função passou a ser adotada na imprensa americana, chegando ao Brasil duas décadas mais tarde, no dia 24 de setembro de 1989, quando a Folha começou a publicar a coluna semanal de seu ombudsman.
Também é atribuição do profissional a escrita de uma crítica interna, encaminhada todos os dias à Redação. O mandato de ombudsman pode ser renovado até três vezes (quatro anos no total).
O profissional não pode ser demitido no exercício de seu trabalho e tem estabilidade de seis meses depois de deixar o cargo. Essas medidas visam garantir a liberdade de exercer a sua função, independente da Direção da Redação.
Na Folha desde 2001, Alexandra foi redatora, repórter e editora-adjunta de Ilustrada e editora de Ilustríssima e de Diversidade. Tornou-se conhecida por publicar, durante 12 anos, as tirinhas “O Pintinho”. De 2021 a 2024, foi secretária-assistente de Redação.
Até as eleições de 2026, ela prevê desafios para a sua atuação. Afinal, diz, o momento político do país é de incerteza. “Muitas vezes os partidos usam o jornal e testam possíveis candidatos”, afirma. “Em um período de incertezas, a Redação deve ficar atenta e não pode ter um olhar viciado para o cenário político.”
O ano guarda ainda uma grande cobertura: a COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima). A ombudsman critica o trabalho do jornal de antemão. “A cobertura já começa sendo patrocinada por empresas ligadas ao desmatamento”, diz. “Não acho que o jornal vai deixar de fazer jornalismo por causa disso, mas é sempre estranho para quem lê.”
Ela afirma que a cobertura econômica da Folha, abrigada na editoria Mercado, fortaleceu-se, tornando-se mais didática, o que aproxima o leitorado de temas técnicos.
Critica, porém, a adoção do slogan “em defesa da energia limpa”. Ela afirma que, embora o jornal não tenha se furtado a mostrar falhas da área, considera um problema se comprometer com um determinado setor.
“Acho que o jornal não se furtou a mostrar problemas que estão sendo enfrentados por essa área. O fato de o jornal se comprometer com um setor não deixa de ser problemático”, diz.
A ombudsman também analisa as mudanças na cobertura cultural, com a onipresença de assessorias de imprensa e a multiplicação de perfis nas redes sociais que divulgam informações sobre o tema, mas sem parâmetros jornalísticos. “Neste ano a Folha deixou passar muita coisa em termos de política cultural e, quando acordou, já era um pouco tarde”, afirma.
Nesse aspecto, um dos temas mais debatidos no momento é a regulação das plataformas de streaming no Brasil. De acordo com Alexandra, o jornalismo cultural passa por um esvaziamento nas principais Redações do país, o que não ocorre na Folha. “A Ilustrada guardar esse espaço especial só coloca mais peso em cima dela.”