A Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito contra um jornalista do portal Metrópoles após ele publicar uma reportagem sobre as movimentações financeiras de um delegado do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), divisão de elite do órgão.
A investigação da polícia, subordinada ao governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi classificada como “tentativa de censura” e criação de um “ambiente intimidatório” por órgãos de defesa da liberdade de imprensa, como a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).
O delegado Fábio Pinheiro Lopes, o Fábio Caipira, ex-diretor do Deic, foi um dos policiais citados nas delações de Vinícius Gritzbach, acusado de lavagem de dinheiro para o PCC (Primeiro Comando da Capital), morto em novembro do ano passado no aeroporto de Guarulhos.
Fábio Caipira e outros dois delegados de sua equipe foram afastados do órgão em dezembro, após a delação de Gritzbach se tornar pública, por decisão do governo estadual. Gritzbach afirma ter recebido oferta de acordo financeiro para a suspensão de investigações contra ele no Deic.
Em março, o repórter do Metrópoles Luiz Vassallo publicou reportagens sobre a movimentação financeira do delegado. Vassallo é o jornalista que descobriu, no ano passado, o esquema de descontos irregulares em aposentadorias que se transformou no escândalo do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Segundo o Metrópoles, a investigação do Deic foi aberta a pedido do próprio ex-diretor do departamento, por “suposta prática de crime contra a honra”, na 2ª Divisão de Crimes Cibernéticos.
“É importante destacar que todas as informações contidas na matéria estão corretas e que o delegado Fábio Caipira foi ouvido pessoalmente antes da publicação. Publicamos a reportagem depois que o delegado foi afastado da direção do Deic pelo governo Tarcísio”, disse, em nota, o diretor do Metrópoles em São Paulo, Fabio Leite.
“É inegável o interesse público neste caso. O departamento jurídico do Metrópoles já está cuidando da defesa do jornalista neste procedimento abusivo”, completa Leite.
Em nota, a Fenaj afirmou que “episódios como este mostram que o uso do poder institucional para perseguir profissionais da imprensa ainda é uma prática preocupante. A democracia exige jornalismo livre e jornalistas respeitados”.
A Folha procurou a Secretaria da Segurança Pública, órgão controlado por Guilherme Derrite e que comanda a Polícia Civil, e a gestão Tarcísio para que comentassem o caso, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.