Negociações para formação de governo voltam à estaca zero após conservadores holandeses recusarem novo pacto com o líder populista Geert Wilders.
Haia (Países Baixos) – As tentativas de formar um novo governo nos Países Baixos enfrentaram mais um obstáculo nesta semana, após o Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), legenda conservadora tradicional, anunciar que não apoiará um novo acordo de coalizão com Geert Wilders, líder do Partido pela Liberdade (PVV), de extrema-direita.
A decisão foi comunicada após dias de tensão e intensas rodadas de negociação que buscavam reconfigurar a coalizão fracassada que havia sido proposta em abril, e que ruiu sob divergências programáticas e resistências internas. O líder interino do VVD, Edith Schippers, afirmou que “as condições para uma aliança estável com o PVV não estão mais presentes” e que “o interesse nacional exige uma alternativa mais moderada e responsável”.
O PVV, que conquistou 37 dos 150 assentos na Tweede Kamer (Câmara Baixa do Parlamento), vinha liderando as negociações para a formação de uma coalizão que uniria forças com o VVD, o Novo Contrato Social (NSC) e o Movimento Camponês-Cidadão (BBB). Embora o acordo inicial tenha sinalizado uma inédita abertura ao partido de Wilders, conhecido por sua retórica anti-imigração e eurocética, as divergências em torno de políticas migratórias, liberdade de imprensa e compromissos com o Estado de Direito acabaram minando a viabilidade do pacto.
VVD busca “rota alternativa”
Fontes próximas à liderança do VVD indicaram que o partido está buscando costurar uma “rota alternativa” que possa viabilizar um governo minoritário de centro-direita ou mesmo uma coalizão tecnocrática com apoio externo do parlamento. Essa possibilidade, no entanto, é vista com ceticismo por analistas políticos, dada a fragmentação atual da Câmara e o desgaste público com os longos meses de impasse político.
“A recusa em seguir adiante com Wilders é também uma tentativa do VVD de preservar sua imagem institucional perante o eleitorado moderado e os parceiros europeus”, avaliou a cientista política holandesa Saskia de Vries, da Universidade de Leiden.
Nova eleição ou governo técnico?
Com o fracasso do segundo esboço de coalizão, aumenta a pressão para que o rei Willem-Alexander designe um novo formador (informateur) que possa liderar as próximas negociações. Parlamentares de centro e centro-esquerda já cogitam a possibilidade de novas eleições antecipadas — algo que ainda divide opiniões dentro do espectro político holandês.
Enquanto isso, o país segue sob um governo interino liderado por Mark Rutte, que permanece no cargo até que uma nova coalizão seja formalmente aprovada. Rutte, que anunciou sua aposentadoria da política após o fim de seu quarto mandato, tem mantido uma postura discreta nas negociações.
Pressão europeia e cenário incerto
A crise política nos Países Baixos tem sido acompanhada com preocupação por líderes da União Europeia, especialmente em um momento de crescente polarização no bloco. O possível retorno de partidos ultranacionalistas ao centro do poder em países fundadores da UE desperta receios quanto à coesão política e à defesa de valores democráticos.
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Apesar da tensão, Wilders afirmou que não pretende abrir mão de sua ambição de governar. “O PVV está mais forte do que nunca. Se os políticos não escutam o povo, o povo os substituirá”, declarou nesta manhã em Haia.
Com o verão se aproximando e as negociações novamente paralisadas, os holandeses vivem um momento de incerteza — sem uma maioria clara no Parlamento, sem um novo governo e com o espectro de novas eleições se tornando cada vez mais real.
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