Até outro dia, ninguém sabia dele. Sim, estou falando dele mesmo. O queridinho do Brasil, campeão de popularidade mesmo em tempos de Zambellis e Magnitskys: o morango do amor.
Uma breve visita ao Google Trends, que acompanha os termos buscados na plataforma ao longo do tempo, desenha a trajetória do morango-bala.
Até 10 de julho, as buscas pela expressão “morango do amor” eram insignificantes. A curva começa a subir, consistentemente nos dez dias seguintes, até empinar no dia 21. Atinge o pico em 25 de julho e, desde então, está na descendente.
A única explicação possível para o fenômeno é um surto coletivo, induzido pelos algoritmos das redes sociais. O frenesi provocou alta de preço e escassez da fruta. Fez doceiros e confeiteiros do país todo dobrarem turnos para atender à demanda insana.
De um dia para outro, uma enxurrada de morango do amor chegou às padarias, restaurantes por quilo, cafés, supermercados e, se duvidar, até aos melhores cabarés —onde o amor sempre foi mercadoria.
Restou à imprensa correr atrás.
Tome entrevista com dona de confeitaria, nutricionista dizendo que engorda, endocrinologista dizendo que ataca o diabetes, dentista dizendo que dá cárie.
Meus amigos e familiares mais insuspeitos toparam pagar preços extorsivos só para provar o tal do morango do amor. O delírio é o exemplo mais didático daquilo que chamam de fomo, do inglês “fear of missing out” —medo de perder alguma coisa que, já que tem uma galera fazendo, deve ser bacana.
É só morango envolto por leite condensado açucarado, coberto por mais açúcar.
Assim como amor demais sufoca, o doce sem contraste enjoa. Precisamos de outras emoções e outros sabores.
Em contraponto ao onipresente morango do amor, trago-lhes o maracujá da raiva.
Na culinária, a raiva está associada ao picante. Temos o molho all’arrabiata italiano, as patatas bravas espanholas. A cozinha de desafeto, para variar um pouco.
O maracujá da raiva é um molho de pimenta com suco de maracujá azedo. Ácido e picante, aromático e frutado, porque de doce já basta o morango do amor.
Ingredientes
- Pimentas ardidas (malagueta, habanero, dedo-de-moça, jalapeño, cumari)
- Maracujá azedo
- 1 dente de alho
- Sal a gosto
Preparo
- As quantidades vão depender do tamanho do seu pote. Recomendo um vidro pequeno, com cerca de 150 ml, porque se trata de suco e pimentas frescos, bastante perecíveis
- Ferva o pote e a tampa por alguns minutos. Deixe secar bem enquanto esfriam. Lave e enxugue as pimentas
- Para um molho mais suave, remova as sementes e as membranas das pimentas. Pique-as para que liberem mais rapidamente os aromas
- Coloque as pimentas no pote até quase atingir a boca. Junte o alho cortado ao meio e o sal. Complete com polpa de maracujá peneirada. Tampe, agite bem e guarde na geladeira por 1 dia antes de usar
- Mantenha o molho na geladeira por até 5 dias. Depois desse período, convém congelar
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