Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) querem que a empolgação da base de apoiadores com as sanções do governo Donald Trump ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), sirva para impulsionar os atos marcados para este domingo (3) por todo o país.
Sob o slogan de “Reaja, Brasil”, as manifestações devem acontecer em diferentes cidades simultaneamente, marcando uma diferença para a estratégia que vinha sendo adotada nesses protestos desde que Bolsonaro retornou ao Brasil em 2023.
A ideia é tornar mais acessíveis as manifestações e que parlamentares possam ter protagonismo em seus redutos. Reservadamente, organizadores temem que os atos sejam esvaziados. Primeiro, identificam cansaço da base, que, aos poucos, tem participado menos de mobilizações nas ruas. Segundo, não haverá o principal chamariz: a presença de Jair Bolsonaro.
Bolsonaro está de tornozeleira eletrônica, proibido de sair de casa em Brasília aos finais de semana. Esta é uma das medidas cautelares impostas por Moraes a ele, no âmbito das investigações que apuram a atuação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. O ex-presidente tampouco poderá gravar um vídeo ou discursar.
Além disso, outros nomes de peso estarão ausentes no ato da avenida Paulista, considerado o principal: o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) marcou um procedimento médico para a mesma data, e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro manterá agenda no Pará, segundo a coluna da Mônica Bergamo. Segundo relatos, ela comparecerá à manifestação em Belém.
Diante deste cenário, alguns parlamentares que não são de São Paulo mudaram a rota para a Paulista. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), estarão no carro de som, organizado pelo pastor Silas Malafaia.
Conhecido por forte presença nas redes sociais, Nikolas gravou um vídeo convidando as pessoas para a manifestação, direcionado a quem talvez não compareça. “Só vale quando tem multidões e multidões? Jesus apenas com 12 [apóstolos] mudou a história dele. Você só vai se simplesmente for e resolver?”, questionou.
“Se você não for, como se fosse bala de prata tudo na vida, simplesmente não vamos conseguir. Não estamos numa corrida de 100 metros, estamos numa maratona”, completou.
Bolsonaristas querem um calendário de manifestações, visto como a única reação possível de apoio ao ex-presidente, que será julgado pela trama golpista no STF provavelmente no mês que vem.
As principais demandas são “anistia ampla, geral e irrestrita”, por meio do projeto de lei que está na Câmara dos Deputados, e impeachment de Moraes, via Senado —duas pautas hoje consideradas improváveis de prosperar no Congresso.
Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-PB), devem entrar na mira dos discursos nos carros de som e na plateia.
Além disso, bolsonaristas também vão pedir “fora, Lula” nos atos, levando adiante o argumento de que é o presidente o culpado pelas tarifas do aliado Donald Trump a produtos brasileiros.
A aplicação de sanções financeiras ao ministro do STF, na chamada Lei Magnitsky, animou bolsonaristas, que vinham sofrendo desgastes pelo tarifaço do aliado Trump. Inicialmente, o governo americano afirmou que a tarifa seria de 50% em todos os produtos brasileiros, mas recuou e deixou mais de 700 produtos de fora nesta semana.
A sanção a Moraes era a maior demanda do bolsonarismo neste ano, e o principal objetivo de Eduardo Bolsonaro junto a autoridades do governo Trump. Ele disse que o sentimento era de “missão cumprida”, após o anúncio.
Eduardo se licenciou do cargo de deputado federal em março, sob o temor de apreensão do seu passaporte pelo STF, quando ainda não era investigado.
Hoje Eduardo e Bolsonaro estão proibidos de se comunicar. O parlamentar, que foi considerado um dos principais nomes para eventual sucessão do pai em 2026, diz que só voltará ao Brasil quando —e se— Moraes for afastado.
Ele tem defendido em entrevistas que apoiadores participem das manifestações no próximo dia 3, como uma forma de ampliar a pressão nacional.
Eduardo também já indicou, ao comemorar a aplicação da sanção a Moraes, que outras autoridades brasileiras podem ter o mesmo destino. Em vídeo, afirmou que tem “várias batalhas adiante” e que a vitória “não é o fim de nada”.