Ali na pontinha sudoeste da Flórida, de frente para o Golfo do México e de costas para Miami, fica um lugar onde a língua franca não é espanhol. O tempero no sudoeste do estado é menos latino e tem mais a ver com a cultura interiorana do sul dos Estados Unidos —com a qual o brasileiro acaba tendo menos contato.
Para chegar lá, não é preciso ir para muito longe de Orlando ou Miami, que costumam ser ponto de partida e base de apoio para muitos brasileiros que visitam os Estados Unidos. A reportagem visitou a região de Fort Myers, Punta Gorda e Englewood, que, de carro, ficam a cerca de três horas de Miami e quatro de Orlando.
Aqui a dica é deixar o clima de festa, badalação, luzes neon e flamingos kitsch em Miami. No sudoeste da Flórida, a atmosfera é mais calma e bucólica.
Em vez de baladas com a presença VIP de Timbaland, o esquema em Punta Gorda é acordar cedo e dar uma corrida na orla do rio, apreciando a simpática arquitetura colonial sulista das casinhas que ornam a região e dando um oi aos também simpáticos baby boomers locais que cumprimentam todos com quem cruzam.
Em vez de bares que tocam música latina ou eletrônica no talo, Punta Gorda tem mais pubs no estilo irlandês ou então aqueles bares com temas esportivos bem americanos —e provar a vasta variedade de cervejas IPA locais.
Para brasileiros sem muita desenvoltura com a língua inglesa, se virar no portunhol pode ser um pouco mais difícil, embora não impossível —basta mandar um “hola” para aquele cidadão que parece ser a representação cuspida e escarrada do estereótipo do americano anglo-saxão protestante para descobrir que ele na verdade tem origens cubanas.
Por lá também dá para dar um tranquilo passeio de barco pelos canais que rodeiam as mansões de Punta Gorda, cantando karaokê para os mais animados. Pela Red Tiki Tours, 90 minutos de passeio durante o dia sai a US$ 39,95 (R$ 217) por pessoa por uma hora e meia de duração. Para ver o pôr do sol durante o passeio, o valor sobre para US$ 59,95 (R$ 325,80) por pessoa.
Lá perto, fica o novíssimo Sunseeker Resort, à beira do Rio da Paz, um resort naquele estilo bem americano. As opções de acomodação vão de suítes a apartamentos de três quartos. O local conta com uma praça de alimentação, um campo de golfe, spa e duas piscinas, uma espaçosa no térreo e outra menor num rooftop. Há ainda seis restaurantes. Na alta temporada, entre novembro e janeiro, as diárias vão a partir de R$ 1.200.
Já o Margaritaville Beach Resort, em Fort Myers Beach, segue um estilo parecido, mas em vez de um rio, dá de frente para uma praia. Aqui o clima é mais animado e a decoração mais colorida. A atmosfera é mais jovem, e lembra um pouco a bagunça do “spring break”, aquela semana do saco cheio quando os universitários vão farrear na praia. As diárias mais baratas giram em torno de R$ 1.200 agora no fim do ano.
Em Captiva, uma ilha nas cercanias de Fort Myers acessível de carro, a reportagem visitou o restaurante Green Flash, que fica à beira do mar e rende belas fotos do pôr do sol. A sugestão é provar as vieiras com molho de limão e açafrão, que saem a US$ 36,95 (R$ 203,40).
Mais ao norte, fica a ilha de Cabbage Key, que só é acessível por barco –no caminho, é possível avistar golfinhos e peixes-boi. Lá fica o famoso Cabbage Key Inn, que, diz a lenda, teria inspirado a música “Cheeseburger in Paradise” de Jimmy Buffett. O teto dele é repleto de notas de dólar, e o visitante é convidado a pregar uma também. O Cabbage Key Hamburger sai a US$ 18,50 (R$ 102).
Em Babcock Ranch, o visitante pode agendar visitas para uma espécie de safári pelo pântano e conferir a vegetação e a fauna local. Dá até para fazer carinho num filhote de jacaré, com o auxílio de um guia. Convém ficar esperto para o lindo bebezinho réptil não fazer xixi em você. O passeio de buggy sai por US$ 24 (R$ 132) por pessoa.
A cultura de praia deles é diferente da nossa. Em Englewood Beach, não espere vendedores ambulantes vendendo comida, água de coco e canga ou alugando cadeira e guarda-sol, nem quiosques abarrotados com música alta. O clima é mais calmo e as roupas de banho mais comportadas, e o local conta com estacionamento e duchas para limpar a areia dos pés.
E como o clima é de calma e relaxamento, por que não visitar um coffee shop com produtos de cannabis no centro de Fort Myers? No Seed and Bean Market, no charmoso centrinho histórico da cidade, o chá gelado com CBD sai por US$ 4,75 (R$ 25). O menu ainda conta com uma série de drinques de café. Para adicionar um shot de CBD ao seu café, basta desembolsar US$ 2,50 (R$ 13,50).
Se der fome, a opção de lugares para comer é vasta na região.
Enquanto em Miami a todo momento se tropeça em um restaurante brasileiro ou numa loja de brigadeiro, o sudoeste da Flórida oferece opções mais americanas —e mais diferentes do que o brasileiro está acostumado.
Um prato bem diferente da culinária brasileira e bem característico do café da manhã do sul dos Estados Unidos é o que se chama biscuits and gravy, que consiste em um tipo de pão americano (que eles chamam de “biscuit”), cobertos por um molho branco e pedaços de linguiça, e pode vir acompanhado de ovos e presunto.
Outra iguaria diferente é a carne de jacaré. É comum encontrá-la na forma de tira-gosto frito. Os gator bites, como são chamados, são pedacinhos de carne de jacaré empanada e servida com molho tártaro ou molho de pimenta. Alguns que experimentam dizem que o sabor lembra frango com a consistência peixe. No SandBar Tiki & Grille, os gator bites, para dividir, saem a US$ 19,50 (em torno de R$ 105).
Já no restaurante Snug Harbor, em Fort Myers, dá para provar desde peixe-espada (US$ 30 ou R$ 163) a camarão-rosa, grandalhão e típico da região (US$ 16 ou US$ 87) enquanto se aprecia o pôr do sol no porto.
Para quem não é muito fã de frutos do mar, a vantagem de se estar nos Estados Unidos é que, mesmo numa região praiana, você facilmente encontra um bifão estilo Outback ou hambúrgueres rechonchudos.
Um ponto polêmico, porém, é a Key Lime Pie, a torta de limão local que floridenses tentarão te convencer que é a melhor do mundo. A verdade é que ela é bem parecida com a versão brasileira, mas sem aquele borogodó trazido pelo leite condensado. O veredito fica a critério do freguês. No Snug Harbor, sai a US$ 7 (R$ 38).