Mês passado estive na Colômbia, Costa Rica, Jamaica, Guiana, Argentina, no México, Suriname, Chile, Peru e em Trinidad e Tobago. Tudo isso, sem sair da Índia.
Também em agosto visitei a Venezuela, Bolívia, o Equador, Martinica e revisitei o Suriname, o Peru, a Colômbia e ainda, no Brasil, passei pelo Amazonas, Amapá, Roraima e Pará. Tudo isso, sem sair de Belém.
E agora esta semana, viajei para a China, Alemanha, Nigéria, França, Irã, Marrocos, mais uma vez o México e até Camarões, com escalas brasileiras que iam da Bahia ao Rio de Janeiro, passando pelo Maranhão, Goiás e Minas Gerais. Tudo isso, sem sair da 36ª Bienal de São Paulo.
As escalas de Belém, claro, estão ligadas à espetacular segunda edição da Bienal das Amazônias, que visitei na capital paraense, quando lá fui à receber meu título de cidadão natalense —algo que quero comentar mais em breve, cheio de orgulho.
E aquelas primeiras escalas que citei foram graças às interações dos meus companheiros e companheiras de viagem ao Rajastão, na Índia, algumas semanas atrás. Mas todas essas visitas foram incríveis e reforçaram minha ideia de que o mundo só é interessante porque a gente se mistura.
Nas Bienais, isso fica claro nos cruzamentos artísticos. Em São Paulo, é possível sair da riqueza de um coletivo de artistas negros paulistanos e cariocas, o Vilanismo, direto para o enigma das imagens do alemão Wolfgan Tillmans; andar pelo labirinto de luzes do chinês Song Dong e atravessar a mata da inglesa Precious Okoyomon; ou apenas escutar os troncos criados pelo nigeriano Emeka Ogboh.
Em Belém, fui das máscaras do maranhense Zimar ao painel de discos de vinil criado pelo colombiano Wilson Diaz; adentrei as folhagens da marajoara Bárbara Savannah e me encantei com as estranhas silhuetas da venezuelana Lucia Pizzani; e redescobri o grande artista macuxi de Roraima, Jaider Esbell, em dois lindos painéis ocres.
A ideia de que uma exposição de arte é uma grande viagem beira o clichê. Porém, desde a última bienal de Veneza, que visitei em 2024, tenho pensado nessas mostras coletivas como grandes itinerários, janelas entreabertas para culturas que às vezes cremos conhecer bem, apenas para descobrir nelas novos horizontes. Sem GPS!
Saindo das galerias e indo para a estrada, incluí minha recente aventura na Índia nesse grande experimento de troca de experiências. O grupo convidado a viajar comigo era inesperadamente diverso. Quem diria, por exemplo, que o Suriname tem um papel importante na diáspora indiana?
A conexão tem menos a ver com os holandeses, que colonizaram o país, do que com os ingleses, que enviaram trabalhadores indianos contratados para viver no então território britânico, na segunda metade do século 19. Mais uma mistura atrevida, fruto dessas duas irmãs tortas, a Geografia e a História.
O choque cultural mais surpreendente que vi no Rajastão, no entanto, tinha a ver com Peru e México. Duas jovens, uma de cada país, se conectaram pelas redes sociais por causa de uma paixão comum: filmes de Bollywood.
O Instagram delas se tornou tão popular que elas acabaram convidadas para ir à Índia, uma oportunidade única de selfies nos cenários dos filmes dos seus sonhos.
Precisa de mais provas de que o mundo só faz sentido se houver mistura, se a gente conversar? Vá à Bienal.
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