Na comédia romântica Amores materialistas, Dakota Johnson fica dividida entre Pedro Pascal e Chris Evans – um problema bom de se ter. O filme de Celine Song, diretora e roteirista de Vidas passadas (2023), que concorreu a dois Oscars no ano passado, é uma produção da A24 e estreia no Brasil nesta quinta-feira (31.07).
Vidas passadas também era protagonizado por uma mulher, Nora (Greta Lee), entre dois homens, que representavam caminhos diferentes para ela: o passado idealizado, o que poderia ser, e o presente realista, o que é. Era sobre amor, mas não apenas.
LEIA MAIS: “Apocalipse nos trópicos”, “Anora”, “Drag Race Brasil” e outras estreias do streaming em julho
Amores materialistas não tem a mesma força dramática de Vidas passadas. É mais leve mesmo. Aqui, Lucy (Dakota Johnson) trabalha em uma agência de casamentos em Nova York. Está acostumada a ouvir pedidos bastante específicos quanto a altura, peso, idade, salário. Os candidatos são produtos com valor de mercado. Em um casamento que ela ajudou a promover, ela conhece um unicórnio (“uma fantasia impossível”, diz, no filme), o rico, bonito, alto, elegante Harry (Pascal), e reencontra um antigo amor, John (Chris Evans), um ator de pouco sucesso que está trabalhando como garçom no evento.
Harry é o homem perfeito, no papel. E se interessa por Lucy, não por seus serviços. John é cheio de defeitos e está longe do que ela quer. Lucy deseja um homem rico, acima de tudo. Mas nem sempre o que a gente quer racionalmente é o que o coração deseja.
Dakota Johnson (Lucy) e Pedro Pascal (Harry) no filme
Foto: Divulgação
Amores materialistas é uma comédia romântica em um tempo em que as comédias e dramas românticos que se passam nos dias de hoje têm muito menos espaço no cinema do que nas décadas de 1990 e 2000. É como se o amor romântico pudesse ser vivido apenas no passado.
Mas, aos poucos, o romance parece estar ganhando força no cinema novamente. Celine, que vai escrever a sequência de um dos clássicos do gênero O casamento do meu melhor amigo (1997), estrelado por Julia Roberts, Cameron Diaz e Dermot Mulroney, conversou com a ELLE sobre por que quis fazer uma história de amor do século 21.
LEIA MAIS: As melhores séries e filmes de moda na Netflix
Dakota Johnson e Chris Evans (John) em cena do filme
Foto: Divulgação
Por que você quis falar diretamente sobre o amor romântico neste filme?
O amor é um tema universal e é algo que sempre me interessa, porque me incomoda, me faz questionar e sentir como se eu não soubesse de tudo. Me interesso muito em contar histórias sobre coisas que são grandes mistérios para mim.
Não há tantos filmes românticos quanto nos anos 1990 ou 2000. Por que isso acontece?
Não sei se o interesse diminuiu, porque sinto que o público está interessado. É só ver a carreira do meu filme (Amores materialistas arrecadou US$ 50 milhões, para um orçamento de US$ 20 milhões, mais do que Vidas passadas). Acho que simplesmente não há desejo de fazer filmes que sejam diretamente sobre o amor no mundo moderno.
“Não há desejo de fazer filmes que sejam diretamente sobre o amor no mundo moderno”
Os filmes românticos migraram para o streaming?
Talvez. Mas romance é um gênero incrível para se assistir nos cinemas. É muito legal sentar-se em um cinema por duas horas, com todas as luzes apagadas, o ar-condicionado ligado e simplesmente assistir aos personagens se apaixonarem, se desapaixonarem e descobrirem o amor por si mesmos. No meio de tudo isso, dá para conversar consigo mesmo e com seus amigos sobre o que é o amor para você. Que incrível poder passar um tempo com esse tema. Para mim, é algo mágico.
Tradicionalmente, o romance é associado a filmes para mulheres. Será que não tem a ver com isso?
Sim. É como se houvesse uma rejeição ao público feminino por parte da indústria, por isso há menos dessas produções. Tipo: precisamos fazer filmes para elas? Como resultado, filmes protagonizados por mulheres e filmes para o público feminino especificamente têm sido frequentemente rejeitados, como se não fossem dignos.
Dakota no filme
Foto: Divulgação
Além disso, há um certo cinismo no mundo moderno. Harry, personagem de Pedro Pascal, comenta no filme que sente dificuldade de falar de amor.
O amor é um tema que nos faz sentir idiotas. É a coisa mais assustadora. Mais do que a maioria dos filmes de terror. Não há quantidade de educação universitária, riqueza, sucesso ou poder que torne alguém melhor no amor. É um milagre completo e inevitável quando acontece. Você pode admitir isso ou dizer: “Não é importante. Filmes românticos são para garotas”. É triste chamar essas produções de filmes de mulherzinha, desprezá-las e dizer que não são sérias. É como se dissessem que as mulheres não são pessoas sérias, e eu discordo. E que pessoas sérias não deveriam se preocupar com amor, namoro, relacionamentos, mesmo que também tenham que lidar com esse sentimento de alguma forma. Elas deveriam ser as primeiras a ficar obcecadas pelo amor, o único grande mistério que não pode ser resolvido com algoritmos. Não importa quanto a tecnologia avance. Por que duas pessoas se enamoram e outras duas não? Por isso o amor é um tema universal e completamente digno de ser transformado em filmes. É digno do cinema. É por isso que faço esses filmes.
“É triste chamar essas produções de filmes de mulherzinha, desprezá-las e dizer que não são sérias”
É interessante porque, no Festival de Cannes, em maio passado, Joachim Trier, diretor de A pior pessoa do mundo (2021) e Sentimental value (2025), disse que a ternura é o novo punk rock. Agora, Superman diz que a gentileza é o novo punk rock. Falar sobre amor também é um pouco punk rock hoje em dia?
Ah, sim. Escolher o amor em vez do conforto, da segurança material e da possibilidade de mudar de classe parece a coisa mais insana que se pode fazer neste mundo obcecado por riqueza e com sistemas econômicos falidos. Hoje não existe possibilidade de trabalhar duro, mudar sua vida e ficar rico. A única coisa que você pode fazer é melhorar seu valor como mercadoria e se casar.
Dakota
Foto: Divulgação
É disso que fala Lucy o tempo todo no filme, de como melhorar seu valor nesse mercado.
Sim. É uma loucura que ela, especialista em mercado e relacionamentos e obcecada por valor, seja capaz de fazer escolhas sobre como quer viver. A fala mais importante de todo o filme é a da Sophie (uma das clientes de Lucy, interpretada por Zoe Winters): “Eu não sou mercadoria, sou uma pessoa”. Lucy tem que aprender essa lição neste filme: não somos mercadorias, somos pessoas. No final das contas, essa coisa intangível que é o amor é a coisa de maior valor. Estou aprendendo quanto isso é punk rock. Porque achava bastante óbvio, mas parece uma sugestão muito radical dizer que você é um ser humano e não uma mercadoria, que você é digno de amor. Ninguém parece questionar o valor de uma bolsa Birkin ou de uma Ferrari. Quando se trata de amor, todo o mundo parece questionar seu valor e sua importância.
No filme, os personagens são muito específicos em seus pedidos, mas eles têm a ver com aparência física e dinheiro, não com valores éticos, por exemplo.
Há tanta linguagem por aí sobre o que precisamos fazer para conseguir um namorado ou namorada. Você tem que cuidar de si mesma, fazer Botox, mudar o cabelo, mudar seu estilo. Mas sabemos que o amor é incondicional. Nada disso importa. Todos nós vamos encolher aos 90 anos de idade. Então por que você se importa com a altura? Esse para mim é realmente o cerne do filme.
LEIA MAIS: 5 looks da Dakota Johnson que queremos testar ainda nesta semana
Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes