Em campo, só tristeza e arrogância. Quanto pior jogamos mais arrogantes e violentos nos tornamos.
O constrangimento sofrido contra a Argentina vai custar caro a alguns: Dorival, Raphinha, Vini. Esses vão pagar em seus clubes, com sua moral, com isolamento e demissões. Assim como a distribuição de lucros numa empresa, a distribuição de culpa não vai ser democrática.
Enquanto a CBF não enxergar o futebol como usina que faz circular afetos e forma identidades, nada vai ser transformado. Enquanto o objetivo for lucrar nenhuma luta social será incorporada e a empresa CBF seguirá sendo comandada por executivos. Enquanto o sonho for o de distribuir riqueza entre poucos não seremos um time e não representaremos, em campo, uma nação.
Quando o hino nacional argentino foi cantado à capela antes do jogo e o estádio entrou em transe eu mandei uma mensagem para minha amiga Alicia Klein e disse: acabou aqui. Perdemos. O que uma seleção é em campo se reflete na arquibancada. Vejam a nossa arquibancada hoje. Calada, nervosa, exigente, rica, branca, conservadora. Um tal de movimento verde e amarelo tenta doutrinar os corpos no estádio de maneira oficial. Regras para torcer. É tudo absolutamente deprimente e grotesco.
No campo, um jeito colonizado de existir. Covarde, careta, burocrático, medroso e violento. Muito violento.
Não tem solução fácil ou rápida. É mudar conceitos. Comecemos aposentando essa camisa amarela sequestrada pelo fascismo. Depois, criar uma filosofia de jogo. Com ela em mãos, pensar em um treinador capaz de executá-la. Mudar a maneira como formamos na base. Incentivar esquemas táticos que reflitam a nossa cultura, que contenham, num campo, quem somos fora dele enquanto população.