Grandes grupos de tecnologia como Meta, Google e Nvidia aumentaram significativamente seus gastos com segurança pessoal, à medida que os executivos do setor assumem papéis cada vez mais públicos na política dos Estados Unidos e enfrentam hostilidade crescente.
Os orçamentos de segurança dos CEOs de dez grandes companhias de tecnologia analisados pelo Financial Times ultrapassaram US$ 45 milhões em 2024. Google, Amazon, Meta, Nvidia e Palantir aumentaram suas despesas de proteção em mais de 10% em relação ao ano anterior.
Especialistas em segurança dizem que os gastos e a preocupação com ameaças a chefes de tecnologia cresceram neste ano após ataques de grande repercussão contra executivos nos EUA.
“Nunca vi a ameaça ou a preocupação tão altas quanto estão hoje”, disse James Hamilton, fundador da Hamilton Security, ex-agente do FBI e ex-vice-presidente da Gavin de Becker and Associates, que já prestou serviços privados de segurança para Elon Musk, da Tesla, e Jeff Bezos, da Amazon.
“As pessoas estão fixando no líder de uma empresa a representação de tudo o que está errado no mundo”, acrescentou.
Uma onda de apoio na internet a Luigi Mangione, acusado de matar a tiros o CEO da United Healthcare, Brian Thompson, no ano passado, gerou temores entre líderes empresariais de novos ataques e forçou empresas a reavaliar protocolos de segurança, segundo especialistas.
Eles também citaram outro aumento na demanda após quatro pessoas serem mortas a tiros no mês passado em um prédio corporativo em Nova York. Segundo autoridades locais, o agressor tinha uma queixa contra a NFL (National Football League).
“O primeiro semestre deste ano foi tão movimentado para nós quanto todo 2024”, disse Joe LaSorsa, fundador da LaSorsa Security & Associates, especializada em proteção executiva.
Segundo ele, a empresa recebeu cinco vezes mais pedidos de avaliação de riscos nos últimos meses e registrou um “aumento notável” em ataques às residências de executivos.
Executivos de tecnologia são particularmente vulneráveis devido à fama, ao ressentimento público sobre lucros corporativos, demissões, mau uso de dados e à crescente atuação política desde a eleição presidencial de 2024.
O setor de tecnologia foi o que mais aumentou medidas de proteção a executivos, com salto de 73,5% entre 2020 e 2024, de acordo com relatório da consultoria Equilar.
A Meta tem historicamente o maior gasto entre as grandes empresas de tecnologia. Em 2024, pagou mais de US$ 27 milhões em segurança para Mark Zuckerberg e sua família —um aumento em relação aos US$ 24 milhões do ano anterior—, incluindo monitoramento em residências e viagens, segundo registros.
Os custos da Meta superam os dos concorrentes porque a empresa garante proteção não só a Zuckerberg, mas também aos seus familiares.
Outras figuras de destaque, como Bezos e Musk, gastam fortunas em segurança paga por conta própria, fora dos gastos divulgados por suas companhias.
Os altíssimos salários e bônus em ações, amplamente divulgados, também tornam executivos de tecnologia alvos potenciais. A valorização das ações nos últimos anos gerou fortunas bilionárias para alguns deles.
A fortuna pessoal de Alex Karp, CEO da Palantir, cresceu quase US$ 7 bilhões em 2024. Ele recebeu ameaças de morte ligadas ao trabalho da empresa com o exército israelense e viu escritórios da companhia no Vale do Silício serem vandalizados em protestos contra contratos com autoridades de imigração dos EUA, segundo fontes.
Karp conta com equipe de segurança 24 horas por dia e já foi visto acompanhado de até quatro seguranças ao mesmo tempo. A Palantir não comentou.
A fortuna de Jensen Huang, CEO da Nvidia, ultrapassou US$ 153 bilhões, conforme a fabricante de chips se tornou a primeira empresa avaliada em US$ 4 trilhões no mês passado. A Nvidia gastou US$ 3,5 milhões em sua segurança em 2024, ante US$ 2,2 milhões em 2023.
Segundo fonte próxima à empresa, o aumento deve-se à maior visibilidade de Huang, reforçada por seu papel em negociações com o governo Trump sobre exportações de chips de IA para a China e pela disparada das ações da companhia.
Huang virou um dos rostos mais visíveis do boom da inteligência artificial, conhecido por interagir com fãs, o que pode elevar o risco. Ele chegou a ser cercado no banheiro durante a conferência anual da Nvidia na Califórnia, em março.
Enquanto isso, Elon Musk, o homem mais rico do mundo, reforçou sua segurança pessoal nos últimos anos devido a ameaças de morte e perseguidores.
Sua exposição pública aumentou ainda mais no ano passado, quando se tornou o maior doador de Donald Trump e apoiou ativistas de direita na Alemanha e no Reino Unido em sua plataforma X.
“Na verdade, tivemos dois maníacos homicidas nos últimos sete meses pensando em me matar”, disse Musk a acionistas da Tesla no ano passado.
Hoje, ele viaja com até 20 seguranças, segundo interlocutores. Em 2024, criou sua própria empresa de segurança, a Foundation Security.
A Tesla informou ter gasto US$ 2,4 milhões com segurança de Musk em 2023, contratando inclusive sua empresa. Em 2024, declarou apenas US$ 500 mil, mas acrescentou que esse valor representava apenas uma fração do custo real.
Empresas privadas de Musk, como SpaceX e xAI, não divulgam gastos.
Desde 2010, a Amazon paga cerca de US$ 1,6 milhão por ano em segurança de Bezos. Em 2024, destinou ainda US$ 1,1 milhão para Andy Jassy, atual CEO, acima dos US$ 986 mil do ano anterior.
Bezos frequentemente é alvo de críticas por sua fortuna, questões tributárias e políticas da empresa sobre direitos trabalhistas. Em 2019, a Amazon chegou a instalar painéis à prova de balas de 4 cm de espessura em sua sede em Seattle.
Mas nem todos os executivos ampliaram a segurança em 2024. A Palo Alto Networks, por exemplo, dobrou os gastos com Nikesh Arora em 2023 para US$ 3,5 milhões, mas reduziu para US$ 1,6 milhão em 2024. A Apple também reduziu os custos com Tim Cook, de US$ 2,4 milhões em 2023 para US$ 1,4 milhão.
As preocupações de segurança se espalharam por outros setores. Após o assassinato de Thompson, empresas como CVS Pharmacy e Anthem Blue Cross Blue Shield removeram fotos e biografias de executivos de seus sites, segundo a Glass Lewis.
Companhias também passaram a adotar protocolos mais rígidos de viagem. A Lockheed Martin, por exemplo, determinou que seu CEO use exclusivamente jatos corporativos.
O JPMorgan gastou US$ 882 mil com segurança de Jamie Dimon em 2024, acima dos US$ 866 mil em 2023 e dos US$ 761 mil em 2022, conforme registros.
O grupo de mídia Fox também relatou aumento nos custos de proteção à residência de seu CEO, Lachlan Murdoch, desde 2020, devido às fortes reações públicas em torno de sua programação, especialmente em anos eleitorais.
“Antes, víamos executivos sendo alvo de pessoas com algum ressentimento pessoal, como um ex-funcionário. Mas agora a violência passou a mirar a liderança das empresas de forma mais ampla”, disse Lianne Kennedy-Boudali, consultora da Control Risks.
Além de ameaças de assassinato, empresas de segurança são chamadas a lidar com risco de sequestro, invasões domiciliares e perseguições. Executivos também enfrentam ataques cibernéticos, como o uso de deepfakes de voz para autorizar transferências de fundos a carteiras de criptomoedas.
Roderick Jones, fundador da Concentric, afirmou que qualquer companhia que combine “grande ressentimento público, muitos acionistas e executivos muito visíveis agora enfrenta um risco estrutural maior”.
Fundadores e investidores de cripto foram dos primeiros a adotar medidas de segurança. A Coinbase gastou US$ 6,2 milhões com a proteção de Brian Armstrong em 2024.
Uma série recente de tentativas de sequestro de executivos de cripto e suas famílias aumentou o clima de alerta nos EUA e na Europa.
Segundo Konstantin Richter, fundador da Blockdaemon, o risco é em parte alimentado pela “narrativa negativa constante contra os ‘tech bros’ e pela politização da tecnologia em geral”. Ele completou: “Sempre que o mercado dispara, as coisas ficam estranhas. Manter um perfil baixo é essencial.”