Eles dizem que a melhor câmera é aquela que você tem em mãos. Para a maioria, isso significa a câmera acoplada ao smartphone.
Mas nem todos pensam assim —especialmente os mais jovens. Para um número crescente de pessoas, a resposta é outra: as câmeras digitais de bolso, semelhantes às que os celulares quase extinguiram anos atrás.
Na verdade, essas câmeras digitais compactas (ou “digicams”) parecem estar vivendo um renascimento. No primeiro semestre deste ano, os envios de câmeras com lentes embutidas ultrapassaram a marca de 1 milhão de unidades, segundo dados da Camera & Imaging Products Association, que reúne empresas como Sony, Canon, Nikon e Fujifilm. É pouco se comparado aos smartphones, vendidos aos centenas de milhões, mas é o melhor resultado desde 2021.
E isso considerando apenas câmeras novas. O número não capta a popularidade crescente das pequenas digitais que muitos de nós usávamos —e até descartamos— mais de uma década atrás.
Então, afinal, qual é o motivo desse revival das digicams?
Estar no momento e buscar a “vibe”
De forma geral, os argumentos dos entusiastas das digicams giram em torno de alguns pontos:
Estar no momento. Você se distrai menos ao fotografar quando o aparelho não está apitando notificações. Além disso, com uma tela menor para enquadrar a foto, é preciso se manter mais conectado à cena real.
“Você não consegue ver direito como a foto saiu na hora, mas depois é muito satisfatório rever o resultado”, disse Zuzana Neupauerova, entusiasta de 24 anos da Eslováquia.
Victor Ha, vice-presidente da Fujifilm North America, afirmou que a empresa percebeu “uma mudança definitiva” em direção às câmeras compactas, já que elas permitem “criar sem as distrações constantes de um dispositivo multifuncional”.
A física favorece as câmeras dedicadas. Por mais sofisticados que sejam os smartphones, muitas câmeras compactas ainda têm sensores maiores, o que significa mais luz captada, melhor desempenho em baixa iluminação e maior alcance dinâmico.
A vibe importa. Talvez o motivo mais forte seja o estético. Muitos jovens se cansaram da perfeição calculada das câmeras de celular e buscam as imperfeições: granulação, cores vibrantes, luz dura.
“Quero algo de baixa qualidade, mas com cores vivas”, disse Neupauerova, que mantém uma câmera Minolta de 2003 justamente pelo aspecto granulado das imagens.
Esse desejo de imperfeição e nostalgia criou até um pequeno mercado para câmeras mais velhas do que muitos de seus novos donos. Em lugares como Hong Kong, modelos com 15 anos ou mais são vendidos por cerca de 100 dólares e saem rápido das prateleiras.
Não é surpresa que os fabricantes tenham percebido essa onda.
A Fujifilm, famosa por sua linha de câmeras que viralizaram nas redes, lançou recentemente a X half, uma minúscula digicam de US$ 849 que aposta em simulações de filme antigas em vez de recursos premium. Já a Ricoh, mais conhecida por suas impressoras, vem produzindo câmeras de rua compactas com presets retrô e anunciou uma nova versão de quase US$ 1.500.
E se eu não quiser comprar uma câmera nova (ou velha)?
Quem busca esse visual retrô não precisa, necessariamente, investir em uma câmera.
É bem possível que alguém próximo ainda tenha uma digicam esquecida na gaveta —ou até você mesmo. Resgatar esses aparelhos pode ser um exercício criativo divertido e ainda evita que mais lixo eletrônico vá parar no meio ambiente.
Outra alternativa é apostar em aplicativos que simulam a estética retrô:
- (Not Boring) Camera: virou favorita entre usuários de iPhone por suas fotos granuladas e cheias de filtros de filme, além de permitir personalizar a interface.
- AgBr: não tira fotos, mas transforma imagens já feitas em versões monocromáticas que imitam filmes antigos e vencidos.