Quem percorre as ruas do centro histórico da Covilhã, em Portugal, vê uma galeria a céu aberto. É lá que estão cerca de 50 grafites que colorem as vielas da parte antiga da cidade e integram o roteiro de arte urbana covilhanense.
As obras, que hoje orgulham moradores e chamam a atenção de turistas, surgiram de uma ideia familiar, conta Lara Seixo Rodrigues, uma das cofundadoras do projeto Wool, Covilhã Arte Urbana. “Eu, meu irmão e minha cunhada viajávamos muito para fora e gostávamos de acompanhar eventos de arte urbana. Achávamos que funcionaria muito bem na Covilhã”, diz.
Viram no grafite uma forma de reabilitar o espaço urbano e ajudar a contar um pouco da história da cidade. “Por volta de 2010, a Covilhã era muito cinzentona. Queríamos envolver a comunidade. A cidade tinha perdido o orgulho, após o declínio de sua indústria de lã”, conta. Localizada na Serra da Estrela, Covilhã também é conhecida pela produção do famoso queijo de leite de ovelha que leva o mesmo nome.
Em 2010, Lara e os familiares desenvolveram o projeto, conseguiram financiamento e iniciaram a empreitada com quatro artistas de fora, que passavam um mês na cidade, interagiam com a comunidade e desenvolviam seus grafites.
A partir de 2017, estabeleceu-se um festival anual de arte urbana. O que não mudou foi o objetivo de conectar a localidade e o trabalho dos muralistas, como diz o próprio nome do projeto, Wool, lã em inglês e um trocadilho como wall (parede).
“Todos os grafites têm ligação com nosso território. A própria história da Covilhã está incluída nele: lã, ovelhas, serra. Cada mural tem a sua história, sua conexão com o território e como o artista interpreta passado, futuro e presente”, afirma Lara.
A maior parte dos murais está nas paredes das casas desde o início do projeto, mesmo se a pintura estiver desgastada. “Quando decidimos renovar dois grafites há dois anos, houve polêmica, revolta na cidade. Foi uma confirmação de que as pessoas assumiram o projeto como delas”, diz.
Quem para em frente a um dos grafites do roteiro logo vê a placa “Converse com este mural”. Nela, há um QR code, que, escaneado, abre um chatbot. “Olá, o que queres saber? Quem és tu? Quem te fez? Perto de Ti?”, pergunta o robô. Cada item dá mais informações sobre o mural visitado.
Se ‘falar’ com o grafite que cobre as paredes de um casarão vizinho à Igreja de Santa Maria, o visitante descobrirá, por exemplo, que aquele é o primeiro mural realizado pelo projeto, em 2011. Ali, as cores dos azulejos da fachada da igreja e do grafite se fundem, e o desenho remete à produção de lã e ao trabalho dos covilhanenses.
A jornalista viajou a convite de TAP Air Portugal e Turismo de Portugal