Brasília – O relatório final da CPI das Apostas Esportivas, conhecida como CPI das Bets, surpreendeu ao deixar de fora os nomes da influenciadora Virgínia Fonseca e da advogada Deolane Bezerra da lista de indiciados. A decisão, tomada nesta quinta-feira (13), gerou reações divididas entre parlamentares e nas redes sociais.
As duas personalidades estavam entre os nomes ventilados nos bastidores como possíveis alvos da comissão, que investigou supostos esquemas de manipulação de resultados no futebol e uso irregular de plataformas de apostas para promoção pessoal e lavagem de dinheiro.
No entanto, o relator da CPI, senador Jorge Kajuru (PSB-GO), optou por não incluir Virgínia e Deolane no rol de indiciamentos, alegando “falta de elementos comprobatórios que sustentassem envolvimento direto com os ilícitos investigados”.
“A CPI não é tribunal de caça às bruxas. É preciso ter responsabilidade. Não há provas de que essas influenciadoras tenham participado de qualquer esquema fraudulento nas bets. Seria injusto e midiático acusá-las sem base sólida”, afirmou Kajuru durante a apresentação do relatório.
Influência e publicidade
Virgínia e Deolane foram citadas ao longo da investigação por receberem cachês milionários de casas de apostas para promover as plataformas nas redes sociais. Em depoimentos e documentos requisitados pela CPI, ficou claro que ambas firmaram contratos publicitários com empresas do setor.
A defesa das duas alegou, desde o início, que as parcerias foram “estritamente comerciais”, sem qualquer vínculo com manipulação de resultados ou irregularidades tributárias. Ambas não chegaram a ser convocadas formalmente pela comissão.
Indiciamentos e foco do relatório
O relatório final da CPI pede o indiciamento de 12 pessoas, entre elas dirigentes de empresas de apostas e intermediários acusados de operar esquemas ilegais com clubes de futebol de diferentes divisões. Entre os crimes apontados estão organização criminosa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção ativa e passiva.
Kajuru também recomendou que o Ministério Público Federal e a Receita Federal aprofundem investigações sobre os fluxos financeiros de algumas casas de apostas, sobretudo aquelas sediadas no exterior.
Reações e bastidores
Nos bastidores do Senado, a exclusão de Virgínia e Deolane foi tratada como uma decisão estratégica para evitar o desgaste político e midiático da CPI. Alguns parlamentares da base governista teriam atuado para blindar influenciadores digitais com forte apelo popular, temendo reações negativas da opinião pública.
Em contrapartida, senadores da oposição criticaram a medida e acusaram a CPI de “passar pano” para celebridades envolvidas com o setor. O senador Eduardo Girão (Novo-CE) classificou o relatório como “incompleto” e prometeu apresentar voto em separado.
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“Estamos perdendo a oportunidade de dar um basta na relação promíscua entre apostas, futebol e figuras públicas que vendem ilusões para milhões de seguidores”, disse Girão.
O que acontece agora?
Com a entrega do relatório final, a CPI das Bets se encerra formalmente. O documento será encaminhado ao Ministério Público, à Polícia Federal e ao Tribunal de Contas da União, que devem avaliar o prosseguimento das investigações.
A CPI também propôs um projeto de lei para regulamentar a publicidade de casas de apostas, exigindo transparência contratual e limites de exposição em redes sociais e eventos esportivos.