O Google Search é considerado o maior negócio da indústria de tecnologia. Ele permite que a Alphabet, empresa-mãe do Google, gere mais lucro do que qualquer outra companhia americana, incluindo Apple, Microsoft, Nvidia e Berkshire Hathaway.
Após a decisão do juiz Amit Mehta desta terça-feira (2) em um processo antitruste, o Google está posicionado para manter esse negócio funcionando quase sem mudanças significativas.
O gigante do Vale do Silício, que foi considerado no julgamento do ano passado como detentor de um monopólio ilegal sobre a indústria de buscas, precisará apenas implementar alterações modestas para corrigir seu comportamento.
Segundo a decisão de Mehta, o Google terá que compartilhar mais dados com concorrentes e criar um comitê de supervisão para monitorar suas práticas comerciais.
No entanto, pode continuar muitas operações que o governo questionou no processo, incluindo os pagamentos à Apple oferecer seu buscador automaticamente e seu controle sobre o navegador Chrome.
O preço das ações do Google subiu mais de 8% após o fechamento do mercado, com investidores comemorando a decisão.
GOOGLE PRECISARÁ COMPARTILHAR ALGUNS DADOS
De acordo com a decisão de Mehta, o Google deve fornecer apenas alguns resultados de busca para empresas rivais. Compartilhar esses dados, que são a base do motor de busca, pode ajudar Microsoft, OpenAI, Perplexity e outros a melhorar seus produtos de busca.
Durante o julgamento, esses dados foram descritos como “o oxigênio” para os motores de busca. O Google acumulou enormes quantidades de dados ao longo dos anos —nove vezes mais do que todos os concorrentes juntos— e os analisou para garantir respostas melhores aos usuários. Essa foi a chave para seu domínio.
Mehta disse que compartilhar uma quantidade limitada de dados ajudaria os concorrentes a melhorar seus sistemas de busca, permitindo que identifiquem e rastreiem mais sites para fornecer resultados melhores.
Porém, o Google não precisará compartilhar alguns de seus dados mais importantes. Mehta rejeitou o pedido do governo para que o Google compartilhasse todo o índice de buscas, um banco de dados que ajuda os usuários a encontrar informações rapidamente. Também negou o pedido para compartilhar um banco de dados sobre pessoas, lugares e coisas que auxiliaria na precisão das buscas.
Jim Jansen, cientista principal do grupo de inteligência artificial do Qatar Computing Research Institute, disse que será difícil saber o quanto Microsoft, OpenAI e outros se beneficiarão. “Há uma década, esses dados seriam muito mais valiosos, mas hoje o Google coleta tanta informação que muita coisa é ruído.”
Além disso, será complicado para o Google e para o tribunal gerenciar os dados compartilhados, pois os usuários concordam em compartilhar suas informações com o Google, não com terceiros.
GOOGLE TERÁ DE SE ADAPTAR A UM COMITÊ
Mehta pediu que o Google criasse um comitê técnico antitruste de cinco pessoas, incluindo especialistas em privacidade, responsável por garantir que a empresa cumpra a decisão judicial e compartilhe os dados adequadamente, protegendo a privacidade dos usuários.
Esse comitê é similar ao que a Microsoft precisou criar após perder um processo antitruste há 25 anos. Na época, a empresa estabeleceu um comitê interno e um programa de conformidade para analisar produtos antes do lançamento e garantir que estavam dentro da lei. O comitê foi considerado responsável por mudanças significativas no comportamento da Microsoft.
PAGAMENTOS CONTINUAM
Quando o Departamento de Justiça processou o Google em 2020, também mirou na Apple. O Google paga cerca de US$ 20 bilhões por ano à Apple para ser o motor de busca padrão nos iPhones. Cada busca gera mais receita publicitária e mais dados para melhorar os resultados, além de dar à Apple motivos para não desenvolver seu próprio buscador.
Mehta reconheceu a justificativa do governo para encerrar esses pagamentos, mas decidiu mantê-los por temer que a restrição prejudicasse consumidores, que poderiam pagar mais ou receber uma experiência inferior.
APPLE MANTÉM SEUS LUCROS
Os cerca de US$ 20 bilhões pagos pelo Google para ser o motor de busca padrão foram um grande benefício para a Apple. Bloquear esses pagamentos reduziria o lucro anual da empresa em 15%, estimaram analistas de Wall Street.
Eddy Cue, chefe de serviços da Apple, argumentou durante o julgamento que os avanços em inteligência artificial diminuem a ameaça antitruste do Google, e que punir a empresa bloqueando pagamentos seria “uma loucura”. Mehta concordou, preservando um negócio vital para a Apple, cuja ação subiu mais de 3% no pós-mercado.
CHROME ESCAPOU DE UMA GRANDE MUDANÇA
Mehta também recusou o pedido do Departamento de Justiça para obrigar o Google a vender o navegador Chrome. Ele reconheceu que o Chrome contribui para a dominância nas buscas, mas uma venda forçada não se encaixaria bem no caso.
A inteligência artificial mostra que o navegador pode se tornar um novo tipo de sistema operacional para a web, capaz não só de buscar informações, mas também de realizar tarefas para os usuários. Com 50% do mercado de navegadores nos EUA, o Google está bem posicionado para explorar novas aplicações de IA sem perder o controle do Chrome enquanto OpenAI, Microsoft e outros competem nesse espaço.