O VLT diante de um empreendimento imobiliário na Zona Portuária do Rio
Marcos Serra Lima/g1
Um novo estudo do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP Brasil), intitulado “Acelerando a Transição: Estratégia para Eletrificar a Frota Brasileira de Ônibus até 2030”, apontou que a Região Metropolitana do Rio de Janeiro tem grande potencial para trocar parte de sua frota de ônibus por veículos elétricos.
A pesquisa identificou que o RJ tem muitos veículos a diesel que poderiam ser substituídos por modelos elétricos com base em sua idade (superior a 5 anos) e consumo energético diário compatível com a capacidade média de bateria. (Veja mais detalhes do estudo na reportagem).
Segundo Clarisse Cunha Linke, diretora-executiva do ITDP Brasil, os pesquisadores mapearam os ônibus a diesel em operação e analisaram seus padrões de uso, traduzindo essas informações em estimativas de consumo energético compatíveis com a autonomia dos modelos elétricos disponíveis no mercado. Ela explicou que assim foi possível identificar o potencial de substituição tecnológica, priorizando a retirada de circulação dos veículos mais poluentes.
“No caso do Rio de Janeiro, os dados revelam um cenário preocupante: mais da metade da frota analisada (55%) ainda opera com tecnologias defasadas, como Euro III e Euro V 5+, com mais de cinco anos de uso. São veículos altamente poluentes, que impactam diretamente a qualidade do ar e a saúde da população”, avaliou Linke
“O estudo aponta uma oportunidade concreta de transição. A maioria desses veículos apresenta um consumo energético inferior a 264 kWh, o que os torna tecnicamente viáveis para substituição por modelos elétricos já disponíveis no mercado”, completou.
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O levantamento vai ao encontro de uma iniciativa da Prefeitura do Rio, que pretende converter os atuais corredores BRT (TransCarioca e TransOeste) para Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), Veículo Leve sobre Pneus (VLP) ou tecnologia similar.
O projeto, que foi enviado na última terça-feira (5) à Câmara de Vereadores, também pretende expandir o sistema VLT do Centro para São Cristóvão. O objetivo é apostar em modelos mais sustentáveis, com veículos movidos a eletricidade.
“A eletrificação da frota de transporte público é uma meta importante para tornar as cidades mais sustentáveis e saudáveis. Qualquer iniciativa que busque substituir veículos movidos a diesel por alternativas elétricas pode representar um avanço nesse sentido”, comentou Clarisse Cunha Linke.
“O foco deve estar em soluções que atendam às necessidades da população com a urgência necessária, reduzam emissões e melhorem a qualidade do serviço”, orientou a especialista.
Nova concessão do serviço
Se for aprovado na Câmara do Rio, o projeto de lei assinado pelo prefeito Eduardo Paes (PSD) vai autorizar o Poder Executivo a buscar parceiros para a gestão do serviço de transporte coletivo de passageiros nesses trajetos.
O prefeito Eduardo Paes disse que o estudo básico do projeto ficou pronto com apoio do BNDES. Ele estimou que a mudança vai custar R$ 12 bilhões e depende de uma parceria público-privada.
“A gente já tem projeto básico. Isso vai ser feito uma PPP. O que nós estamos pedindo para a Câmara é autorização legislativa para fazer uma PPP. Vai ter que ter privado e a gente vai ter que ter uma cesta de recursos públicos. Então isso ainda não tem prazo”, comentou Paes.
“Eu estou falando de algo em torno de R$ 12 bilhões. É muito dinheiro. Precisa de financiamento, recurso privado. Então é um avanço. Essa ‘vltização’ é um compromisso nosso, mas ainda não tem data para começar a obra. A gente ta modelando esse sistema”, completou o prefeito.
Prefeitura do Rio propõe transformar corredores do BRT em VLT ou VLP; projeto pode custar R$ 12 bilhões
O projeto ainda não tem data para votação na Câmara. O texto encaminhado aos vereadores tem apenas três artigos e não fala de prazos ou custos.
Ao RJ2, o município informou que vai aproveitar os traçados que já existem dos BRTs. Contudo, a prefeitura ainda não definiu como será a compra dos trens, a instalação dos trilhos e o modelo de concessão.
Juntos, os BRTs Transoeste e Transcarioca transportam 530 mil passageiros por dia.
Detalhes do estudo
Além de identificar o alto potencial para eletrificar parte da frota de ônibus da Região Metropolitana, a pesquisa do ITDP Brasil, realizada em parceria com a Scipopulis e com apoio do Ministério das Cidades, revelou outras vantagens da transição para veículos elétricos.
Segundo o levantamento, a mudança de matriz energética de parte dos veículos pode trazer benefícios significativos para a saúde da população e para o meio ambiente, como a redução drástica da poluição sonora e das emissões de gases de efeito estufa.
Eduardo Paes propõe transformar BRT em VLT e VLP
Raoni Alves / g1 Rio
O estudo analisou 18 sistemas de transporte público nas maiores regiões metropolitanas do Brasil, incluindo a Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
A metodologia envolveu a caracterização dos padrões de operação das frotas de ônibus e a identificação de veículos a diesel que poderiam ser substituídos por modelos elétricos com base em sua idade (superior a 5 anos) e consumo energético diário compatível com a capacidade média de bateria.
No total, 14.146 veículos convencionais que rodam nessas regiões, e possuem idade superior a 5 anos, com consumo diário de bateria inferior a 264 kWh, foram identificados como potenciais para substituição. Esses veículos representam 37,8% do total de ônibus em circulação nos sistemas analisados.
A eletrificação desses ônibus pode resultar em uma redução de 24,6% nas emissões de CO2eq geradas pelos sistemas de transporte público coletivo analisados, gerando uma economia de até R$ 54 milhões por ano em custos socioambientais.
A poluição do ar é um dos principais fatores de internação e mortes no planeta, e a transição para ônibus elétricos, que reduzem as emissões de CO2eq em até 90%, é fundamental para mitigar esses impactos.
Estima-se que a substituição da frota analisada possa gerar uma economia anual de até R$ 62,1 milhões em custos sociais relacionados à poluição.
Poluição do ar aumenta risco de demência, aponta estudo
Além dos ganhos ambientais e de saúde, os ônibus elétricos são mais silenciosos e confortáveis, melhorando a qualidade dos deslocamentos para os usuários do serviço.
Para viabilizar essa transição em larga escala, o estudo propõe uma estratégia nacional com recomendações de políticas federais:
Aprimoramento da gestão e governança de dados: Melhorar o acesso e compartilhamento de dados operacionais e contratuais entre empresas privadas e entes públicos.
Incentivo à adoção de estratégias de recarga: Definir diretrizes para o planejamento e dimensionamento de infraestruturas de recarga, garantindo eficiência e otimização da circulação de veículos elétricos.
Coordenação da compra de ônibus elétricos: Padronizar especificações técnicas e centralizar processos licitatórios para otimizar a aquisição de frotas elétricas, reduzir custos e sinalizar demanda à indústria nacional.
De acordo com Clarisse Linke, diretora-executiva do ITDP Brasil, o estudo fornece insumos cruciais para que o Governo Federal possa direcionar recursos de forma mais eficaz para melhorar a qualidade de vida nas cidades, especialmente no âmbito de programas como o REFROTA (Programa de Renovação de Frota do Transporte Público Coletivo Urbano), parte do Novo PAC.
“É uma oportunidade do Brasil também se tornar uma referência no tema, dado que temos também bons exemplos na América Latina, como o Chile”, analisou Clarisse.
Os investimentos necessários para a renovação dessa frota identificada somam R$ 44,5 bilhões, cerca de R$ 8,9 bilhões por ano até 2030.
Potencial de eletrificação
O estudo do ITDP Brasil identificou a Região Metropolitana do Rio de Janeiro como um dos sistemas com maior potencial de substituição de frota em termos absolutos. Isso significa que muitos ônibus da região metropolitana atendem aos critérios para ser substituído por veículos elétricos.
De acordo com o levantamento, o potencial de eletrificação é focado em veículos convencionais, com idade superior a 5 anos (tecnologias Euro III e Euro V) e com consumo diário de bateria inferior a 264 kWh.
O Rio de Janeiro, como uma grande metrópole e com uma frota considerável, possui um grande número desses veículos mais antigos e poluentes que são o foco da substituição.
O que são BRT, VLT, VLP e ônibus Euro III e V
🚍 O que é BRT (Bus Rapid Transit)?
Sistema de ônibus que opera em corredores exclusivos, separados do tráfego comum.
Tem estações fechadas, embarque em nível (sem degraus) e pagamento antecipado.
É mais rápido e eficiente que o ônibus convencional, mas ainda depende de veículos a diesel ou elétricos sobre pneus.
BRT
Marcelo Piu/Prefeitura do Rio
🚈 O que é VLT (Veículo Leve sobre Trilhos)?
Modal ferroviário urbano, semelhante a um bonde moderno.
Circula sobre trilhos, geralmente em vias compartilhadas com carros e pedestres.
É elétrico, silencioso e com baixa emissão de poluentes.
Ideal para áreas centrais e com alta densidade de passageiros.
24 de março – VLT circula vazio na Praça Mauá, na entrada da Avenida Rio Branco na tarde desta terça
Marcos Serra Lima/ G1 Rio
🚌 O que é VLP (Veículo Leve sobre Pneus)?
Modal semelhante ao VLT, mas que não usa trilhos — circula sobre pneus.
Pode ser elétrico e operar em vias exclusivas, como o BRT.
Tem aparência de metrô ou bonde, mas com infraestrutura mais barata que o VLT.
Exemplos incluem ônibus articulados ou biarticulados com design moderno.
⚙️ O que são as tecnologias Euro III e Euro V?
São normas europeias de controle de emissão de poluentes para motores a combustão.
Euro III: padrão mais antigo, com limites menos rígidos para emissão de gases tóxicos.
Euro V: mais avançado, com redução significativa de poluentes, mas ainda baseado em combustíveis fósseis.
Ônibus com essas tecnologias são considerados mais poluentes que os elétricos e estão entre os principais alvos da substituição.