A Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo), que reúne sindicatos patronais, tem protagonizado um embate que culminou, na última segunda (2), com a expulsão de Paulo Junqueira, empresário que hospedou o ex-presidente Jair Bolsonaro em Orlando (EUA) após as eleições de 2022.
Presidente do sindicato de produtores rurais de Ribeirão Preto, ele acusa a entidade de ser um “feudo”, comandado há 50 anos pela mesma família —com o pai, Fábio Meirelles, e, mais recentemente, o filho Tirso Meirelles— e de ter sido impedido de concorrer nas eleições internas há dois anos.
A direção da Faesp, por sua vez, afirma que Junqueira foi expulso por fazer uma série de acusações infundadas contra a instituição e que “todas as suas ações são pautadas pela observância das leis, do seu estatuto social, pela democracia e pela transparência”.
A federação abriu um processo administrativo contra ele e, em assembleia geral no centro da capital paulista, decidiu afastá-lo com 145 votos dos 160 presentes —outros cerca de 80 membros não compareceram. A sessão foi precedida por um tumulto envolvendo o deputado estadual bolsonarista Lucas Bove (PL), aliado de Junqueira.
O parlamentar diz que foi impedido de se manifestar: “Eu dei bom dia e comecei a falar. Elogiei a atual gestão e falei que seria totalmente antidemocrático expulsar uma pessoa porque ela é oposição”, afirmou ele à coluna, acrescentando que alguns membros começaram a xingá-lo e ele foi retirado.
Do lado de fora, um grupo pequeno de manifestantes protestava em favor de Junqueira, que criticou o “aparato exagerado” de viaturas da GCM (Guarda Civil Metropolitana) presentes no local.
O empresário acusa a Faesp de falta de transparência nas finanças, que incluem verbas do Senar (“sistema S”), e afirma que a expulsão é uma forma de lhe impedir de disputar novas eleições, já que os pleitos passados tiveram chapa única. Ele compara a decisão com o caso de Bolsonaro, “que já está condenado pelo STF” antes de se defender.
“Quero montar uma nova federação da agricultura e pecuária no estado, com estatuto, cláusula pétrea e que não permita nepotismo. Recebi muitas ligações [de produtores rurais insatisfeitos com o comando da Faesp], nunca tive tanto voto”, diz Junqueira.
A eleição de 2023 da entidade chegou a ser anulada pela Justiça do Trabalho em primeira e segunda instâncias, mas as decisões foram suspensas mediante recursos até que o caso seja avaliado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Procurada, a Faesp respondeu que “não há qualquer decisão judicial que deslegitime a atual diretoria” e que a decisão do processo disciplinar que resultou na exclusão de Junqueira “foi tomada pelo Conselho de Representantes, órgão soberano da entidade”, aprovada pela grande maioria dos presentes.
Sobre o tumulto, a federação respondeu que o deputado Lucas Bove “infringiu as normas da entidade ao usar o microfone sem autorização e de forma ofensiva”, negou postura truculenta contra ele e acrescentou que solicitou formalmente à Alesp (assembleia legislativa) que avalie a conduta do parlamentar.
Uma série de reportagens da Folha de 2017 mostrou indícios de irregularidades da gestão de Meirelles à frente da Faesp, com favorecimento a seus filhos.
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