Em 2023 estive em um jantar com Sam Altman, o fundador da OpenAI. Todo mundo perguntava sobre o recém-lançado ChatGPT. Aproveitei para perguntar sobre outra empresa dele, a Helion, de fusão nuclear.
Altman respondeu que acreditava que em cinco anos a fusão nuclear seria realidade. Resolveria todo o problema de energia da humanidade e, de quebra, a questão climática.
Achei esse diagnóstico atribuível às caipirinhas que ele havia tomado naquela noite. No entanto, há sinais reais de progresso na fusão nuclear. E mais: uma competição recorde entre empresas privadas e países para ver quem chega lá primeiro.
Se a fissão nuclear gera energia quebrando um átomo pesado de urânio ou plutônio, deixando como resíduo material radioativo, a fusão faz o contrário. Gera energia fundindo dois átomos leves de hidrogênio (deutério ou trítio). O resíduo direto são nêutrons e hélio, um gás inerte. Na água do mar há deutério suficiente para alimentar o planeta por 26 bilhões de anos.
O problema é que para fazer dois prótons com carga positiva (que se repelem) se fundirem é preciso aproximar os núcleos a distâncias mínimas (um femtômetro). Isso requer uma quantidade de energia inicial enorme, usada para aquecer o hidrogênio até que ele vire plasma e para outras estratégias capazes de manter os núcleos próximos, como campos magnéticos ou lasers.
O desafio é justamente chegar à ignição sustentada do material, gerando mais energia do que é consumida.
Essa operação é tão difícil que existe até uma piada: “a fusão nuclear está a 20 anos para acontecer há pelo menos 70 anos”. O que mudou então para o otimismo sobre a fusão ter voltado? Que, aliás, é a mesma forma de geração de energia que acontece dentro das estrelas.
A primeira coisa é dinheiro. A fusão era o tipo de projeto que só governos conseguiam desenvolver. Hoje há mais de 50 empresas privadas dedicadas à fusão. Juntas, já captaram US$ 9,8 bilhões (cerca de R$ 53 bilhões). Só a Helion levantou US$ 1 bilhão (R$ 5,40 bilhões).
Outra mudança foi tecnológica. O surgimento de ímãs supercondutores de alta temperatura e a capacidade de controlar o plasma por meio de inteligência artificial, para que ele não escape das jaulas magnéticas.
Há outro fator pouco falado no ocidente: a China. O país tem dado passos largos em direção à fusão. Na cidade de Hefei, o Instituto de Física do Plasma conseguiu aquecer o plasma a uma temperatura de 100 milhões de graus, mais de seis vezes a temperatura do sol. O experimento permaneceu estável por 18 minutos, recorde mundial de contenção do material em condições tão extremas.
Sozinha, a China já injetou US$ 3 bilhões (cerca de R$ 16,2 bilhões) em startups de fusão, sem contar investimentos ainda maiores feitos diretamente pelo governo em projetos próprios.
Já nos Estados Unidos os cortes nas universidades podem atrasar tudo. O Laboratório de Física do Plasma de Princeton, um dos mais avançados —que tem o brasileiro Vinícius Duarte na equipe— está perdendo talentos. O físico chinês Liu Chang, um dos principais nomes, anunciou que retornará à China.
Em todo caso, uma pesquisa recente da Associação da Indústria de Fusão diz que os especialistas pesquisados afirmam que a fusão estará entre nós em 2035. Faça suas apostas.
READER
Já era – mundo em que fusão era considerada ficção científica
Já é – países e empresas competindo para chegar na fusão
Já vem – quem conseguir ganha independência energética total do petróleo e fósseis
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.