No seu primeiro emprego em tempo integral, numa empresa de prontuários eletrônicos de saúde, Richard Bedats usa inteligência artificial todos os dias para gerar ideias e resumir artigos.
O analista de produto de 26 anos também pediu a um chatbot que analisasse dados para identificar quais profissionais de saúde mental sua companhia deveria atender. Com o Google Gemini, obteve respostas em minutos —uma tarefa que levaria 45 minutos se feita manualmente.
“Com esses 40 minutos a mais, consigo refletir muito mais sobre o que encontrei antes de partir para a próxima tarefa”, disse.
Ferramentas generativas permitem que jovens assumam tarefas mais complexas e automatizem o “trabalho braçal”, de relatórios a depuração de código. Isso pode acelerar a progressão de carreira da Geração Z —dos 13 aos 28 anos. Mas também reduz vagas iniciais e levanta preocupações sobre perda de habilidades, apontam pesquisadores.
“Fiquei surpreso com o impacto [da IA] sobre os jovens”, disse Erik Brynjolfsson, diretor do Laboratório de Economia Digital de Stanford. “Não há dúvida de que a economia vive uma transição.”
Desde o lançamento do ChatGPT em 2022, o emprego de jovens de 22 a 25 anos em áreas mais expostas à IA, como desenvolvimento de software e atendimento ao cliente, caiu 13% em relação a setores menos afetados, segundo estudo de Stanford.
Entre trabalhadores mais velhos, houve alta, assim como em funções pouco expostas, como supervisão de produção. Mesmo assim, a adoção ainda é limitada.
Em agosto, 9,7% das empresas nos EUA relataram usar IA para produzir bens e serviços, contra 5,5% um ano antes, segundo o Censo americano. Entre jovens, quase 6 em cada 10 afirmam usar a tecnologia ao menos uma vez por mês, segundo pesquisa Gallup de março.
Antes, funções de entrada serviam de aprendizado —bancários juniores montavam prospectos, cientistas de computação depuravam programas, profissionais de saúde organizavam agendas. Agora, a IA executa grande parte dessas tarefas.
“A eficiência da IA desafia o modelo tradicional da base do mercado de trabalho”, disse Aaron Levie, CEO da Box.
Para Harshvi Shah, 22, consultora de saúde, a IA resume literatura médica, liberando tempo para clientes. Ela espera ganhar mais responsabilidades em breve. Sua empresa inclusive premia os funcionários que melhor usam IA em reuniões quinzenais.
Jessica Moran, 25, associada sênior na KPMG, disse usar IA até dez vezes por dia. Um fluxograma que levava oito horas a preparar hoje sai em um minuto.
Líderes corporativos veem benefícios. Mary Callahan Erdoes, CEO da divisão de gestão de patrimônio do JPMorgan, afirmou que a IA permitirá a jovens assumir tarefas como apresentações, antes restritas a cargos seniores. “Isso pode ser exponencial agora que você tem a IA como parceira”, disse.
O impacto, porém, varia. Segundo o Fed de St. Louis, cientistas da computação economizam mais tempo com IA, enquanto áreas como educação, direito e serviços sociais ficam para trás.
Especialistas alertam que jovens podem pular etapas cruciais de aprendizado. Ethan Mollick, da Universidade da Pensilvânia, disse que recorrer a chatbots em vez de mentores pode corroer a experiência de tutoria.
A automação também pode gerar perda de habilidades. Na aviação, a FAA recomendou que pilotos voassem mais manualmente para evitar dependência excessiva de sistemas automáticos.
Nataliya Kosmyna, pesquisadora do MIT, mostrou que a atividade cerebral cai quando se depende da IA, o que compromete o desenvolvimento. “O cérebro precisa de esforço para se desenvolver”, disse.
Empresas talvez tenham de rever como avaliam jovens que agora acessam expertise com um simples comando, afirmou Karim Lakhani, de Harvard.
Para Shah, consultora de saúde, a tecnologia não substitui tudo. “Consultoria é algo muito voltado ao cliente”, disse. “O toque humano não pode ser substituído.”