Joana Garcia Campos tinha 1 anos e 11 meses quando morreu; família acusa médicos de negligência
Arquivo pessoal
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) anunciou nesta segunda-feira (8) que vai fazer uma análise complementar na documentação sobre as internações e a morte da bebê indígena Joana Garcia Campos, de 1 ano e 11 meses.
A criança morreu no final de julho após ser transferida da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Pediátrica de São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos, para o Hospital Pediátrico Lagos (HP Lagos). O laudo do Instituto Médico-Legal (IML) aponta como causa do óbito pneumonia, miocardite aguda e choque séptico.
A família questiona o resultado da perícia do IML e denuncia negligência no atendimento inicial. O MPRJ busca, ao conferir as guias, laudos e atestados, apurar se houve algum tipo de erro médico. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.
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Parentes falam em reação a medicamento
Joana era indígena Macuxi, uma tribo de Roraima, e morava em Tomás Coelho, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Nas últimas férias, a criança foi para a casa da avó em Unamar, em Cabo Frio, com a família.
Segundo a mãe da criança, a estudante Christinny Garcia, o laudo do IML sobre a morte de Joana foi entregue apenas após diversas tentativas e não inclui o exame toxicológico.
“Eles sequer pediram o toxicológico, então não tem como descartar a hipótese de uma possível intoxicação por medicação, não tem como entender o que tinha exatamente no corpo dela e qual foi a quantidade administrada, porque esse exame não foi feito”, disse Christinny.
A família sustenta que somente essa análise poderia esclarecer se houve intoxicação por medicamentos — que teria sido administrado, segundo relato de uma profissional da unidade, mas não consta no prontuário.
“Recebo as conclusões com surpresa e indignação. Para confirmar ou descartar intoxicação seria indispensável o exame toxicológico. O fato de não ter sido realizado impede a investigação dessa hipótese”.
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Além da ausência do exame, a família aponta divergências nos registros médicos, como possível manipulação de prontuário, suspeita de broncoaspiração durante tentativa de intubação e até a inclusão de dados de outras crianças no documento fornecido pelo Hospital Pediátrico Lagos (HP Lagos).
O hospital nega que tenha enviado laudo de outra criança e afirma que entregou corretamente todos os documentos.
“Não existe uma explicação sobre como uma bebê de quase 2 anos deu entrada numa UPA sem gravidade e sai praticamente morta”, salientou a mãe da bebê.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), atualmente existe uma sindicância para apurar o caso.
Ministério Público pede novo laudo
Na quinta-feira (4), a promotora Renata Mello Chagas, da 3ª Promotoria de Justiça de São Pedro da Aldeia, fez uma reunião com Christinny Garcia. Na ligação, Renata passou detalhes do caso da criança. A promotora pediu novas diligências à Polícia Civil.
Entre elas, estão os depoimentos de todas as enfermeiras que atenderam a bebê Joana Garcia entre os dias 24 e 27 de julho, além da técnica de enfermagem que, segundo relato do pai da criança, teria informado ter aplicado o medicamento — o que não consta no prontuário.
Também devem ser ouvidos a assistente social e o médico responsável por solicitar a inalação.
A promotora pediu ainda que a UPA detalhe quais medicamentos foram ministrados à criança e se houve, de fato, aplicação da medicação. O Ministério Público quer saber quais substâncias foram utilizadas e se há similaridade com o princípio ativo do remédio.
Renata Chagas também pediu a realização de exame toxicológico no corpo da menina e vai encaminhar toda a documentação ao Grupo de Apoio Técnico Especializado (Gate) do MPRJ, que deverá analisar possíveis falhas médicas no atendimento.
“As investigações estão em andamento, e ainda não há conclusão sobre a ocorrência ou não de erro médico. O que se tem é a necessidade de apurar profundamente para a compreensão do que ocasionou o falecimento”, informou a promotoria, por nota.
A deputada estadual Dani Balbi (PCdoB) também acompanha o caso. Ela enviou ao MPRJ um ofício pedindo explicações do caso. A promotora informou isso à família de Joana.
O que dizem as autoridades
O g1 questionou a Polícia Civil sobre a falta do exame toxicológico. No entanto, o órgão não havia respondido até a publicação desta reportagem.
A Secretaria Estadual de Saúde disse que determinou a instauração da sindicância, em 8 de agosto, com prazo de 30 dias, sendo prorrogável por mais 8 dias, para apurar detalhadamente os atendimentos prestados à Joana.
De acordo com o órgão, a conclusão da sindicância será anunciada no próximo dia 16. A pasta disse que vai detalhar os atendimentos prestados à menina pela UPA de São Pedro após conclusão da sindicância.