É difícil encontrar comparações para explicar o tamanho de um navio com uma montanha-russa aquática no topo e 322 metros de comprimento quando se vê um monstro marítimo desse porte atracado no porto. Mas vale a tentativa: ele poderia comportar cerca de quatro modelos Airbus A380 (maior avião comercial do mundo) enfileirados. Sua altura é a de um prédio residencial de 20 andares.
O navio chama-se Norwegian Aqua, último lançamento da Norwegian Cruise Line (NCL) e novidade global no setor de cruzeiros. Ele opera até agosto no Caribe, em rota que vai e volta para Miami, passando por Bahamas, e de agosto a outubro vai para as Bermudas, partindo de Nova York.
Se por fora gera espanto pelo tamanho, por dentro é quase impossível não se perder pelos longos corredores de cada deck. Alguns números para tentar mostrar sua dimensão: transporta 5.168 pessoas —3.571 passageiros e 1.597 tripulantes; tem 1.813 quartos, 18 bares, 17 restaurantes, piscinas, academia, minigolfe, basquete, pickleball, cassino, spa, salão de beleza, teatro, espaço para shows e festas e lojas.
Há, ainda, um complexo de luxo com 123 suítes chamado The Haven (o refúgio, na tradução), a parte VIP do cruzeiro. A piscina de borda infinita, os bares e o elevador são exclusivos, e mordomos servem os hóspedes 24h.
A mega embarcação fez uma rota de estreia para o setor de turismo, jornalistas e influenciadores no fim de março, de Lisboa, em Portugal, a Southampton, no Reino Unido. Uma tempestade, a Depressão Martinho, atrasou a partida, e os dias de viagem tiveram chuva, vento e mar agitado, uma experiência diferente da que se vê no verão caribenho.
“O Caribe ainda é um porto muito fácil para receber navios, mas no Alasca, por exemplo, as tempestades estão aumentando, os portos são muito pequenos, então quanto mais vento, mas espaço ocupamos para manobrar. Temos visto alguns cancelamentos por lá”, diz o capitão do navio, o sueco Robert Lundberg.
O cruzeiro de cinco dias não foi no Alasca, mas mesmo assim o tempo forçou que a Aqua passasse duas noites parada no porto lisboeta. O lado positivo foi que os passageiros preencheram a lista do que fazer em um cruzeiro na chuva.
Para não se perder nas dezenas de opções diárias, é preciso organização. Todas as manhãs, a tripulação deixa um cardápio de atividades na porta das cabines. O passageiro descobre, por exemplo, que tem aula de cha-cha-cha (um estilo de dança cubana) às 11h, de salsa às 15h, tributo a Stevie Wonder, a Prince ou a Fleetwood Mac, balada anos 1960 ou 1990 à noite, e um cronograma musical ininterrupto que vai das 11h às 23h, com DJs e bandas.
Comida e bebida são os atrativos permanentes e servidos à vontade. As pessoas andam pelo navio com um drinque na mão, como se fosse uma festa interminável.
Há bares clássicos, com poltronas de couro, abajures, bandas de jazz e charutaria, o especializado em vinho e os casuais, como os da piscina —provavelmente os mais frequentados em dias solares. Existe a opção de bar só para viajantes solo, e alguns que casam com qualquer hora do dia, como o Observation Lounge. Localizado no último deck, tem uma vista ampla para o mar e agrada tanto aos que desejam ler como aos que estão em grupo.
Para comida, há duas categorias de restaurantes: os incluídos em qualquer pacote e os pagos à parte. A primeira já garante uma experiência diversa, desde hambúrguer e tapas a opções “plant-based” e a cardápios do sudeste asiático.
O Commodore é um exemplo de restaurante incluso e com bastante requinte. É possível sentar-se ao lado de grandes janelas redondas que dão para o mar e apreciar uma sopa de lagosta ou um prato de camarões salteados com pasta de alcachofra, tudo acompanhado de vinho.
Os restaurantes pagos à parte têm capacidade inferior (de 46 a 128 pessoas), exigem reserva e têm assinatura de chefs. Os destaques são o Sukhotai, de comida tailandesa, com preços médios de US$ 50 (R$ 275,60), e o Palomar, um europeu com comida do mar, onde se paga um menu degustação de US$ 60 (R$ 330,80).
O café da manhã é servido em quatro ou cinco dos restaurantes, a depender do dia. Um bufê extenso tem opções que vão da comida de verdade, como carnes e massas a lanches. Filipinos e filipinas compõem boa parte da tripulação e, como é regra em cruzeiros, sorriem e cumprimentam os hóspedes o tempo todo. No café da manhã, passam pelas mesas servindo café e cantando: “Coffee, coffee, here we go again / My, my / how can you resist us?”, uma adaptação da música “Mamma Mia”.
Além de comer e beber, jovens e adultos podem ir ao Mandara SPA, também pago à parte. A diária dá acesso a um ambiente para relaxamento com trilha sonora de cachoeira –uma torrente que cai de dois andares. A sequência de paradas de bem-estar inclui piscina salgada, hidromassagem em água quente, sauna de carvão, de argila, aromática, sala de gelo e um banho que intercala água gelada e quente em movimentos sincronizados com diferentes luzes –algo como cromoterapia.
Por fim, é possível colocar um roupão, deitar-se em cadeiras aquecidas e ouvir alguma música zen (é alta a probabilidade de também ouvir alguém roncando, de tanto relaxamento). Dentro do spa, há experiências pagas (e caras): você pode fazer uma massagem (há 16 tipos delas) por US$ 299 (R$ 1,64 mil) ou um tratamento para estimular o colágeno por US$ 399 (R$ 2,2 mil). Pode até clarear os dentes, tomar vitaminas intravenosas ou aplicar botox.
Crianças têm suas alas, como um miniparque de diversões no exterior do navio. Há programação para crianças de 6 meses a 3 anos, com atividades interativas acompanhadas dos pais. A área de jogos é onde se reúnem os menores, mas ela também atrai adultos pelos boliches, fliperamas, simuladores de corrida e jogos com realidade virtual.
O carro-chefe é a Aqua Slidecoaster, uma mistura de montanha-russa e tobogã, onde um carrinho com o passageiro sobe a partir de propulsão magnética.
As famílias com filhos são o principal público de cruzeiros hoje, mas outros grupos têm crescido, segundo Estela Farina, diretora-geral da Norwegian Cruise Line no Brasil, como o de mulheres com mais de 50 que viajam entre amigas. O brasileiro também prefere rotas de sol e calor.
Ela afirma que o setor temeu pelo fim da indústria durante a pandemia, com 500 dias sem atividade, mas que 2023 já apresentou um aquecimento, com volume de vendas superior ao de 2019, e diz que o cruzeiro tem um diferencial competitivo em relação a outras viagens ao exterior quando o real está valorizado.
“Mesmo quando o turismo para fora não compensa em função do dólar [elevado], o cruzeiro não tem gasto surpresa: ele inclui tudo —alimentação, estadia e lazer—, então o custo-benefício é o pacote”, afirma Farina.
Os pacotes para viajar no Norwegian Aqua variam de R$ 5.582 (na cabine interna) a R$ 8.228 (na cabine com varanda) e R$ 25.583 (área VIP), em um roteiro de uma semana em outubro. Apesar de eventuais surpresas geradas por mudanças climáticas, vale checar se o clima estará favorável para gabaritar os pontos da área externa e tomar um drinque na espreguiçadeira depois da piscina.
A jornalista viajou a convite da Norwegian