Um evento na tarde desta segunda (31) no Senado, em Brasília, marca o lançamento de um livro com imagens reveladoras e raras do golpe de 1964, além da reedição de duas obras que se tornaram referências sobre aquele momento de ruptura.
Há 61 anos, no dia 31 de março, as tropas do general Olympio Mourão Filho deixaram Juiz de Fora rumo ao Rio de Janeiro, dando início ao golpe, que se consolidaria nos dias seguintes. O acontecimento empurrou o país para um período autoritário que durou 21 anos.
A principal novidade entre os livros é “1964 – Imagens de um Golpe de Estado”, organizado pelos historiadores Heloisa Starling e Danilo Marques e pela pesquisadora de literatura brasileira Livia de Sá Baião. Reúne 71 imagens do período que vai de novembro de 1963, com os principais episódios que acentuaram a tensão política do país, a 15 de abril de 1964, com a posse do general Castello Branco, o primeiro presidente do regime militar.
Neste caso, imagem não é sinônimo de fotografia. Há, sim, fotos relevantes e pouco conhecidas, como a cena em que um soldado agride um homem em Recife em 1º de abril de 1964. Capa do livro, é um registro de Rubens Américo, da revista O Cruzeiro.
Mas surgem também manchetes de jornal, reproduções de documentos, cartazes de propaganda, ilustrações e flâmulas.
“Mostrar essas imagens é trazer à tona a força disruptiva do acontecimento, permitindo a compreensão de suas ressonâncias no presente e reconfigurando nossa percepção do passado”, escrevem os organizadores na apresentação do livro.
Segundo o historiador Danilo Marques, “perspectivas e detalhes que muitas vezes passam despercebidos” foram levados em conta na seleção das imagens. A equipe, diz ele, buscou ainda “garantir uma visão ampla e diversa do golpe de Estado, apresentando imagens de todas as regiões do país”.
Nesse sentido, a obra não inclui, por exemplo, trabalhos consagrados de Evandro Teixeira, o fotógrafo mais lembrado quando o tema é a ditadura.
Por outro lado, ressalta uma imagem vista por poucos: em 15 de abril de 1964, Castello Branco tomava posse como presidente e, à frente dele, o governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, cumprimentava o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli.
“Essa foto simboliza muito bem o selo da conspiração urdida e da ação golpista até aquele momento”, diz Marques sobre o registro de Jean Solari, da revista O Cruzeiro.
“Quisemos retratar a a criação da situação de instabilidade institucional que garantiu a deposição de Jango e a ocupação do Estado pelos golpistas. Esse processo foi se desenhando nos meses anteriores ao 31 de março”, afirma o historiador.
A estratégia dos conspiradores pode ser vista, por exemplo, em uma ilustração do livreto “Sua Parte na Luta contra o Comunismo”, produzido pelo Ipes (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), que reunia empresários empenhados em derrubar João Goulart.
Cada imagem é seguida de um comentário assinado por historiadores que integram o Projeto República, grupo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) liderado por Starling. Além de oferecer a contextualização histórica, esses textos contribuem para que o leitor veja o acontecimento sob novos ângulos.
O evento desta segunda também promove o relançamento pela editora do Senado de dois livros ligados àquele período: “Golpe de 64 Visto e Comentado pela Casa Branca”, do jornalista Marcos Sá Correa, e “Anatomia da Crise”, do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos (1935-2019).
O download gratuito desses três livros poderá ser feito a partir do final desta semana.
Lançamento da coleção História da Ditadura
Quando
Abertura, às 14h, com o senador Randolfe Rodrigues e a historiadora Heloisa Starling (UFMG); às 14h30, debate sobre o livro “Golpe de 64 Visto e Comentado pela Casa Branca”, com Felipe Loureiro, professor de relações internacionais da USP, e o jornalista André Basbaum; às 15h30, debate sobre os livros “Anatomia da Crise” e “1964 – Imagens de um Golpe de Estado”, com a jornalista Cristina Serra, o cientista político Christian Lynch e o historiador Danilo Araújo Marques
Onde
Auditório Petrônio Portela, no Senado, em Brasília
Quanto
Entrada gratuita
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