Negociações diplomáticas, como as CPIs, sabe-se como começam, mas não se sabe como terminam. Donald Trump espalhou confusões pelo mundo, mas pelo menos no caso do Brasil foi de uma clareza ululante. Na sua primeira carta a Lula, de 9 de julho, ele escreveu, logo no primeiro parágrafo:
“A maneira como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma desgraça internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!” (Ênfase dele.)
De lá para cá surgiram novas agendas. Renegociaram-se tarifas (o que cair na rede é peixe), cassaram-se os vistos de sete juízes do Supremo e demonizou-se o ministro Alexandre de Moraes. Todas elas interessam a Trump, mas o que ele quer mesmo é eleger Jair Bolsonaro.
O filho do ex-presidente foi claro no mesmo dia: “Apelamos para que as autoridades brasileiras evitem escalar o conflito e adotem uma saída institucional que restaure as liberdades. Cabe ao Congresso liderar esse processo, começando com uma anistia ampla, geral e irrestrita”.
Os Bolsonaros querem uma anistia. Ouvindo-se as falas no calor das sanções, fica a impressão de que o projeto está enterrado. Pode ser, mas o deputado federal Major Vitor Hugo apresentou-o no dia 24 de novembro de 2022, quando Trump era apenas candidato à Presidência dos Estados Unidos.
Quando as águas clarearem, a bancada bolsonarista terá um argumento em seu favor: “Põe o projeto em votação, se ele for rejeitado, zero a zero e bola ao centro”. Sua rejeição atenderia ao bem de todos e a felicidade geral da nação, mas se isso fosse pedra cantada, ele já teria ido a voto.
Repete-se à saciedade que não se pode anistiar delinquentes que ainda não foram sentenciados. Seria bom se fosse assim. O presidente Juscelino Kubitschek tomou posse no dia 15 de janeiro de 1956. No dia 16 de fevereiro, um grupo de oficiais da FAB seguiu para a base aérea de Jacareacanga.
Os revoltosos dominaram algumas cidades e a rebelião durou 19 dias, os militares foram presos e, no dia 1º de março, JK mandou ao Congresso um projeto de lei que os anistiava. Ninguém havia sido sentenciado. Os revoltosos de 1956 chegaram ao poder em 1964 e festejaram a cassação e o exílio de JK.
Trump impôs novas tarifas a dezenas de países, mas as sanções ao Brasil foram as mais pesadas. Ademais, ele só cassou vistos de juízes brasileiros e só demonizou o ministro Alexandre de Moraes. Com Pindorama o negócio dele é político.
Trump e o andar de cima
A pesquisa Genial/Quaest trouxe um dado inquietante. No andar de baixo (renda de até dois salários mínimos) as sanções são condenadas por 74% dos entrevistados. A favor, só 15%. Na faixa de renda com mais de cinco salários mínimos a condenação cai para 68%, dentro da margem de erro. Nesse segmento, a aprovação foi de 25%.
É possível que Trump só tenha recebido semelhante apoio naquilo que se poderia (indevidamente) chamar de andar de cima de Pindorama.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.