Estamos acostumados a conversar com a inteligência artificial para resolver questões rápidas – fazer uma tradução, explicar termos ou conceitos específicos, padronizar um e-mail, pedir indicações. Mas já pensou em um personal shopper por IA para facilitar a busca por roupas e acessórios moldados a seus gostos e medidas?
Trata-se de uma realidade cada vez mais comum. Há algum tempo, a inteligência artificial generativa desempenha um papel ativo na jornada de compra, em especial nos canais digitais. Até pouco tempo atrás, o grande diferencial dos e-commerces era a infinidade de mercadorias. A abundância, porém, virou armadilha. Segundo o relatório “The State of Fashion 2025”, da McKinsey & Co. em parceria com o The Business of Fashion, 74% dos consumidores deixaram de concluir uma compra online por excesso de opções. Ainda de acordo com o levantamento, 80% deles gostariam que a IA ajudasse a reduzir o tempo gasto na pesquisa de produtos.
“Estamos em uma era em que todos pedem personalização, mas ninguém tem tempo para investir nisso”, resume a pesquisadora de moda e especialista em consumo feminino Thais Farage. Se antes as filtragens por preço, tamanho, cor, marca e tipo de peça davam conta de otimizar a experiência nas lojas virtuais, agora a promessa é outra: a busca por meio de linguagem natural (ou quase). Em vez de selecionar caixas de seleção, o consumidor escreve ou fala exatamente o que deseja. Algo como: “Quero um vestido vermelho de até 400 reais, que não amasse fácil e combine com um blazer que já tenho”.
Cena do filme As Patricinhas de Beverly Hills.
Foto: Reprodução
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O analista de dados Alex Machado, 37 anos, queria comprar uma jaqueta da Barbour, grife britânica que ficou em alta depois que Carmy, personagem do ator Jeremy Allen White na série O urso, vestiu um de seus itens. O problema era o valor: a peça custava cerca de 5 mil reais.
Sem disposição para gastar tanto, ele decidiu colocar a tecnologia para trabalhar a seu favor. Criou um prompt e usou diferentes plataformas de inteligência artificial para encontrar alternativas. “Fui refinando a busca com referências sobre a faixa de preço, a cor, o tamanho e o local de origem. Também pedi opiniões publicadas em sites, fóruns e blogs para montar uma curadoria de opções”, diz Alex.
A estratégia deu certo. As plataformas apresentaram tabelas comparando prós e contras das melhores alternativas. No fim, ele optou por uma marca que nem estava no seu radar. A IA ainda o ajudou a selecionar o tamanho adequado, cruzando suas medidas com informações e comentários sobre o caimento desejado. “O processo ficou mais simples. A busca foi centralizada em um só lugar, e pude explicar o que queria de um jeito bem natural.”
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Thais acredita que “os assistentes virtuais têm tudo para substituir a interação humana” no atendimento de demandas customizadas. “A IA pode sugerir roupas compatíveis com itens que o consumidor já comprou ou com seu estilo pessoal e ranquear conteúdos com base em quem avaliou e no histórico de feedbacks”, completa a pesquisadora. Para ela, empresas maiores tendem a sair na frente.
A Zalando, gigante europeia de e-commerce, anunciou em maio a utilização de inteligência artificial para gerar imagens mais rapidamente. A ideia é responder a microtendências que nascem em redes como o TikTok sem arcar com os custos e prazos de uma sessão de fotos tradicional. “A IA generativa abre novas portas para nós como indústria”, disse Tian Su, vice-presidente de personalização da empresa, em comunicado oficial. “Ela tem potencial para revolucionar a forma como interagimos e engajamos nossos consumidores.” No Brasil, Renner e Dafiti são algumas das varejistas que começaram a testar sistemas internos de recomendação com tecnologias similares.
Consultorias de mercado projetam um impacto financeiro expressivo. A McKinsey calcula que a IA generativa pode gerar até 275 bilhões de dólares em lucro para o segmento de moda nos próximos três a cinco anos. Daniela Penteado, especialista de tendências da WGSN, destaca o diferencial competitivo da ferramenta no varejo: “Ela melhora a experiência do consumidor, reduz a fadiga de decisão e aumenta as taxas de conversão. Especialmente em um cenário em que mais de um terço da população mundial já compra online”.
Segundo Daniela, a inteligência artificial não atua apenas nos bastidores. Ela também pode oferecer recomendações precisas, visualizações realistas e atendimento 24 horas, diminuindo devoluções e fortalecendo a confiança do consumidor. “Investir em busca inteligente com IA não é apenas modernizar o e-commerce, é criar um ambiente de compra mais relevante e confiável, capaz de fidelizar clientes e diferenciar a marca”, finaliza.
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