Quem já acompanhou de perto a moda da década de 2010 deve se lembrar do vestido bandage. Usado por uma gama de celebridades – de Beyoncé e Britney Spears a Kim Kardashian –, o modelo é conhecido pelas múltiplas fitas elásticas que dão forma à silhueta justa, que define o corpo de quem o usa.
Apesar de seu sucesso no começo do milênio, a criação do vestido aconteceu anos antes, no começo da década 1980, com Azzedine Alaïa. O estilista tunísio introduziu o design, inspirado nas múmias e nos ritos ancestrais egípcios, em um de seus desfiles como uma alternativa aos shapes volumosos e extravagantes que dominavam a moda da época.
Grace Jones com vestido bandage de Azzedine Alaia em desfile de 1986, ocorrido em Nova York.
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Quase uma década depois, Hervé Léger apresentou sua interpretação do modelito: enquanto Alaïa apresentava-o numa viscose levemente suave, o francês optou por uma versão ainda mais elástica e compressiva do vestido, agora mais semelhante às ataduras e bandagens médicas que dão nome à peça – o termo surgiu socialmente, como uma maneira de se referir ao desenho, e só posteriormente foi adotado pela marca oficialmente.
Adorado por supermodelos, como Cindy Crawford, Iman e Naomi Campbell, a leitura de Léger virou o maior símbolo de seu trabalho e um hit da moda, usado por Nicole Kidman no filme Batman Eternamente (1995) e também pela Princesa Diana em diferentes ocasiões. E, aparentemente, ele está de volta.
Iman com vestido de Hervé Léger na década de 1990.
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Por que o vestido bandage está de volta?
Em setembro de 2024, Kaia Gerber surgiu um vestido bandage branco e comprido, similar ao utilizado por sua mãe, a modelo Cindy Crawford, no tapete vermelho do Oscar de 1993. Em abril deste ano, Hailey Bieber declarou, em comentário no Instagram, que acredita na volta do vestido colado de Hervé. A empresária, à frente da marca de beleza Rhode, utilizou uma versão desenhada pela Saint Laurent no evento da Fashion Trust com o Google. A atriz Margot Robbie também se jogou no modelo em 2023 durante a turnê de divulgação de Barbie.
Kaia Gerber reproduz look usado por sua mãe, Cindy Crawford, no Oscar de 1993.
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Hailey Bieber de Saint Laurent em abril de 2025.
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Antes desses momentos, o último auge do vestido bandage ocorreu há aproximadamente 18 anos. Em 2008, quando a marca de Léger já era propriedade de Max Azria (então fundador e dono da BCBG), seus desenhos voltaram às passarelas após quase uma década de hiato da etiqueta. Desta vez, sob a direção criativa de Azria.
O desfile colocou a marca de novo no mapa, e não demorou para que o vestido retornasse ao guarda-roupa de celebridades, como Rihanna, Paris Hilton, Victoria Beckham e “uma nova gama de estrelas de Hollywood que exibem seus corpos tonificados pelo pilates nos bandages exclusivos de Léger”, como escreveu WWD em resenha publicada no ano do comeback da marca.
Rihanna com modelito rosa do vestido bandage em 2007.
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Victoria Beckham usa modelo bicolor da Hervé Léger.
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É interessante observar o contexto no qual a versão original de Léger, em 1990, veio à vida: após o surto da Aids, cresceu na sociedade a preocupação em não só ser, mas sobretudo parecer saudável – uma vez que a doença contraída pelo vírus HIV poderia ser detectada, então, por uma aparência característica, considerada “enfraquecida”. Ninguém queria parecer doente, e cresceram os adeptos das aulas de aeróbica, do fisiculturismo e da musculação – manifestações típicas do culto ao corpo de então.
O vestido bandage de Hervé Léger, portanto, nasce em um momento em que a forma física é exaltada, algo permitido e até ampliado pela silhueta colada.
Embora a preocupação com a imagem e a busca pelo padrão de beleza vigente nunca tenham sido abandonadas, os últimos anos colocaram em evidência a perpetuação desses desejos com o boom das canetas emagrecedoras – febre, diga-se de passagem, ocorrida após um período em que se parecia priorizar a aceitação e a diversidade. É curioso que com o retorno da magreza aconteça, de novo, um retorno do vestido bandage.
Mas esta é somente uma maneira de observar o apelo do vestido bandage. É possível também destacar a originalidade do modelo. Feito sem moldes, as bandagens são unidas umas às outras a partir de alfinetes e, então, costuradas fita à fita manualmente – processo que não permite uma grande produção. Segundo Lubov Azria, antiga diretora comercial da etiqueta, a média de confecção era de 100 unidades para cada design de vestido.
Atriz Danielle Brooks usa vestido Hervé Léger em março de 2024.
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Preservar a herança de Hervé Léger está entre os objetivos da Authentic Brands Group, proprietária da etiqueta desde 2017. Para isso, buscam reintroduzir seu nome à audiência mais jovem. “A mulher de hoje é multifacetada. Ela busca por conforto, versatilidade e significado no que veste”, disse a atual vice-presidente da marca, Melissa Lefere-Cobb, ao Who What Wear.
Abraçar os diferentes biotipos parece fazer parte da estratégia. “Estamos experimentando novos materiais, expandindo tamanhos, para que sejam inclusivos, e também a narrativa, de forma que ela reforce a força do bandage.” Resta observar.
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