Arquitetura, gastronomia, arte. Cidades ricas e cheias de história costumam ser o melhor caldo de cultura para encontrar atrações assim. Barcelona é um exemplo visceral.
A cidade é a capital da Catalunha, região mais rica da Espanha. Foi berço, ou acolheu, artistas do porte do arquiteto Gaudí, da soprano Montserrat Caballé, dos pintores Dalí e Miró (sem falar do andaluz Picasso, que viveu ali na juventude).
Já sua gastronomia não se restringiu à rica cozinha regional ou às típicas tapas que lhe deram fama: foi ali também que floresceu a revolucionária cozinha de vanguarda do chef Ferran Adrià.
A pujança econômica, cultural e gastronômica –resulta num poderoso ímã turístico.
Símbolo de Barcelona, o já centenário Majestic Hotel & Spa fica num edifício clássico e imponente, mas totalmente integrado à paisagem da elegante avenida onde se localiza, o Passeig de Gràcia, construída em meados do século 19 para a ostentação da burguesia local fora do apinhado centro antigo (o bairro gótico, dentro do traçado das antigas muralhas medievais).
Em torno do hotel ficam as grifes de luxo de sempre. Mas também obras de arquitetura (tornadas centros culturais) do arquiteto modernista Antoni Gaudí (1852-1926). Tanto a Casa Millà (ou La Pedrera) quanto a casa Batlló remetem à influência do estilo art-nouveau, mas com a inconfundível mão de Gaudí; a ausência de ângulos retos, mimetismo de formas da natureza, desenhos e cores surpreendentes.
De volta ao hotel, estão as confortáveis acomodações, um spa relaxante com piscina coberta, além do animado rooftop com música, gostosos drinques e petiscos e vista para a basílica Sagrada Família. O Majestic tem algo raro em hotéis: é também destino para os moradores locais (não somente turistas), como fica evidente no farto brunch de domingo, quando seu restaurante Solc é tomado pela sonoridade do sotaque catalão.
Este apelo emotivo talvez se deva à própria história do hotel, um dos poucos na Europa que se mantém, desde 1918, nas mãos dos fundadores, a família Soldevila.
Sua cozinha, supervisionada pelo chef consultor Nandu Jubany, preza pelo uso dos ingredientes da região, especialmente trazidos de sua própria fazenda nas redondezas. Homenageia mais a culinária regional e mediterrânea do que os voos criativos de restaurantes festejados e estrelados, como os que visitei, às vezes fugindo da programação.
Afinal, é em Barcelona que fica o atual restaurante número um do mundo pelo ranking World’s 50 Best, o Disfrutar, cujo detalhista menu-degustação é assinado pela trinca de chefs proprietários Mateu Casañas, Oriol Castro e Eduard Xatruch.
Os três trabalharam no extinto elBulli, o mágico templo dos irmãos Ferran e Albert Adrià. O primeiro hoje se dedica a pesquisas na Fundação elBulli, na Costa Brava catalã.
Já Albert dirige em Barcelona o magnífico restaurante Enigma –onde realiza um balanço entre fórmulas herdadas dos experimentos do elBulli (que difundiu o uso de avançados métodos tecnológicos em seus pratos), e receitas de uma simplicidade tocante, produtos na sua excelência máxima realçada por uma singela intervenção do chef.
Em Barcelona o turista brasileiro vai também reencontrar a dupla de chefs que esteve em São Paulo e no Rio de Janeiro, Sergio e Javier Torres. Além do restaurante Eldelmar, de pratos tradicionais de frutos do mar, eles comandam também o restaurante Cocina Hermanos Torres, onde conquistaram três estrelas do guia Michelin –com uma cozinha aberta no meio do salão compondo um complexo de nove estalões, de trabalho que circundam as mesas. Uma cozinha que mexe com as emoções, no espírito da apaixonante Catalunha.
Mas saindo da mesa, ainda há muita Barcelona para conhecer. Na arquitetura, o mencionado Gaudí tem outras obras icônicas: a basílica Sagrada Família, até hoje em obras (que se iniciaram em 1882), mas já impactante pela fachada intrincada e pela inesperada luminosidade do seu interior; e o visionário parque Güell, que tendo fracassado como empreendimento imobiliário no início do século passado, foi comprado pela prefeitura em 1926 tornando-se (para nossa sorte) um delirante parque público repleto de mosaicos, cores e formas orgânicas.
Contemporâneo de Gaudí, o arquiteto Lluís Domènech i Montaner (1850-1923) também deixou sua marca no modernismo catalão. Além de residências, ele é autor de edifícios como o antigo Hospital de Sant Pau, hoje conhecido como Recinte Modernista de Sant Pau, com generosos espaços, abóbodas e azulejos que tornam a visita obrigatória.
Gosta de artes? Além de arquitetura –mas aproveitando também para conhecer o espaço urbano da antiga Barcelona (o efervescente bairro El Born)— é imperdível visitar o Museu Picasso, com obras do período (mas não só) em que o pintor (1881-1973) viveu na cidade durante sua formação artística.
E saindo dos clássicos, no mesmo bairro visitei o museu Modern Contemporary (Moco), para ver, num prédio renascentista, obras de Andy Warhol, Keith Haring, Banksy, Jean-Michel Basquiat e muitos outros.
Aproveitando o desvio para a modernidade (mas ainda na Cidade Velha), resta conhecer o Macba (Museu d’Art Contemporani de Barcelona), num luminoso edifício do arquiteto Richard Meier com obras de artistas das últimas décadas.
Parece uma programação intensa? É mesmo, mas Barcelona tem muito mais a oferecer. Na gastronomia, por exemplo, falta visitar o mercado La Boqueria, a confeitaria de Christian Escribà, a loja de chocolates Amatller e os vinhos da Vila Viniteca.
Mas tem também o espetáculo de flamenco na linda loja de instrumentos Casa Sors. A visita ao Palau de la Música Catalana de Domènech i Montaner. O passeio pela Rambla, o turístico calçadão arborizado que leva ao Porto Velho. A lista é quase inesgotável.
O jornalista viajou a convite do hotel Majestic