Dos muitos cenários colocados para a eleição presidencial de 2026, não convém perder muito tempo com os que incluem Jair Bolsonaro (PL) e os que excluem Lula (PT). O ex-presidente provavelmente estará preso na eleição, e o atual só não deve concorrer por um imponderável físico.
As várias hipóteses que ainda restam mostram o petista com vantagem de 15 pontos ou mais sobre o mais próximo candidato da direita no primeiro turno, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).
Vantagem confortável, mas que pode levar à ilusão de que o pior na situação política do atual presidente passou e agora é administrar a vitória. A realidade é que a eleição tem tudo para ser muito parecida com a de 2022: apertadíssima e decidida no detalhe em segundo turno.
A direita está fragmentada e assim deverá permanecer, dado que o único candidato que teria poder para uni-la seria o próprio Jair. Nenhum de seus filhos ou sua cônjuge terá o condão de fazer a legião de governadores interessados no emprego tirar o time de campo.
Nesse leque cabe de tudo: desde a centro-direita pragmática de Ratinho Jr. (PSD) até o bolsonarismo tecnocrático de Tarcísio de Freitas (Republicanos), passando pelo conservadorismo à Milei de Romeu Zema (Novo) e pela direita raiz de Ronaldo Caiado (União Brasil).
Mesmo entre “The Bolsonaros” existem nuances, com Flávio representando algo próximo do centrão, Michelle engajando a base evangélica e Eduardo, talvez o que tenha a personalidade mais parecida com a do pai, lá dos EUA plantando bombas.
É provável que esse menu destro ainda decante um pouco, com alguns dos nomes virando vices de outros.
A certeza é que todos estarão unidos no segundo turno contra Lula, a não ser que a disputa de foice para estar lá tenha deixado cicatrizes irrecuperáveis. Mas isso é difícil. Se há uma argamassa que une a direita é a ojeriza ao líder petista.
Nos cenários de segundo turno com Lula (e sem Jair Bolsonaro), há dois que merecem atenção. Contra Tarcísio a vantagem do presidente é de quatro pontos percentuais, o que indica empate técnico. Contra Ratinho, são cinco.
O paranaense, aliás, é um dos grandes beneficiados pela pesquisa, com seu antipetismo light, gestão bem avaliada e, claro, a ajuda do nome do pai. Filiado a um partido que consegue ser um pouco de tudo no espectro ideológico e é pilotado pelo guru Gilberto Kassab, pode ter apelo junto ao terço mais independente do eleitorado, que é o grande objeto de desejo da eleição.
A questão, para ele, é conseguir chegar à etapa final.
Sobre Michelle a vantagem de Lula chega a oito pontos, o que faz dela a Bolsonaro-não-Jair mais bem posicionada.
Esse dado só confirma a avaliação dentro do bolsonarismo de que ela é o futuro político da família, mas é difícil imaginar que uma neófita nas urnas como a ex-primeira-dama se aventure em uma disputa presidencial quando a vaga ao Senado pelo Distrito Federal está praticamente garantida. Um dado que poderá mudar o cálculo é o possível efeito martirizador que a prisão do marido terá sobre sua imagem.
Flávio e Eduardo, por outro lado, ambos com desvantagem para Lula na casa dos dois dígitos, parecem destinados a ampliar pouco seu apelo para além da base tradicional do pai.
Voltando aos governadores, Zema e Caiado são os que enfrentam maior dificuldade para sair da bolha da direita, e petistas não escondem a torcida pela candidatura de ambos.
No caso do goiano, que tem 75 anos, haveria um bônus para Lula, 79: a neutralização do debate etário, que o petista certamente terá de enfrentar na corrida eleitoral, seja quem forem os adversários.
Um aspecto lateral, mas revelador, da pesquisa é a dificuldade que o atual governo enfrenta sem Lula na urna.
Nem o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), nem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), conseguem desempenhos comparáveis aos do presidente, seja no primeiro ou no segundo turno.
Mas, como dito anteriormente, são cenários que não deveriam ser explorados muito agora, mas que estarão na ordem do dia quando chegar o tal “pós-Lula”, em 2030. Daí, sim, a esquerda terá um problema.