Cotado para disputar a Presidência em 2026, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) lotou o Palácio dos Bandeirantes de prefeitos, abriu espaço para um discurso da primeira-dama, Cristiane, e destacou a fé ao lançar, na manhã desta terça-feira (20), seu programa de erradicação da pobreza, que deverá ser um contraponto ao Bolsa Família e às políticas assistenciais do governo Lula (PT).
Segundo informações do cerimonial do governo paulista, 210 prefeitos —cerca de um terço do total de mandatários municipais do estado— estiveram presentes na cerimônia, que provocou congestionamento nas vias do Morumbi, bairro da zona oeste que abriga a sede do governo.
O programa SuperAção SP se propõe a romper o ciclo de pobreza de 35 mil famílias em dois anos. O objetivo é atingir inicialmente 1% de seu público-alvo, que são as famílias do estado registradas no CadÚnico. O cadastro tem 3,2 milhões de famílias em municípios paulistas, sendo 2,5 milhões delas beneficiárias do Bolsa Família.
O auditório Ulysses Guimarães, dentro do palácio e com capacidade para mil pessoas, estava lotado quando Tarcísio chegou para o evento, por volta das 10h30. A apresentação atrasou em mais de meia hora devido à disposição do governador em tirar fotos com os prefeitos convidados, suas delegações e as primeiras-damas. Tarcísio sorriu e atendeu a todos.
Ao término do evento, o cerimonial ainda organizou filas de parlamentares, prefeitos e primeiras-damas para cumprimentar o governador e fazer mais fotos com ele.
Durante seu discurso, Tarcísio adotou um tom pastoral e enfatizou as palavras “fé” e “crença” como ingredientes necessários para o sucesso.
“Tudo nasce na crença, tudo nasce na atitude. E, se a gente quer superar a pobreza, se quer fazer esse programa ser um sucesso, se a gente quer fazer esse programa ser uma referência. A gente vai construir. Nós vamos construir o melhor programa social do Brasil.”
O governador também usou termos bíblicos para se referir ao programa. “A gente está falando de legado, a gente está falando de galardão perante Deus, porque a melhor maneira de servir ao Senhor é fazer a diferença, é proporcionar emancipação”, disse.
“Galardão” é um termo presente na Bíblia que remete à recompensa espiritual.
Ao falar com jornalistas, instantes após a apresentação, o governador foi questionado sobre a relação de sua proposta com o Bolsa Família e fez críticas à bandeira petista. “Entendo que esses programas são muito importantes, no entanto, não são suficientes. O que a gente quer, no final das contas, é garantir que, de fato, haja prosperidade.”
Ele disse que o SuperAção SP “é, sim, muito importante para nós”, mas negou que a proposta tenha caráter eleitoral. “Não estou olhando isso, isso não passa pela cabeça quando se faz um programa desse. O que passa na cabeça é: vamos fazer a diferença, vamos resolver a vida das pessoas.”
Durante a apresentação, no auditório, além da secretária de Desenvolvimento Social, Andrezza Rosalém —cuja pasta é responsável pela ação— e do presidente da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), André do Prado (PL), que terá de aprovar um projeto de lei autorizando recursos para o programa, a primeira-dama Cristiane Freitas fez uma fala de cinco minutos.
Ela apresentou o “Caminho para Capacitação” citando números de agentes envolvidos na ação, dados sobre previsão de atendimentos e exemplos de serviços oferecidos.
O projeto envolve a organização de 30 caravanas para oferecimento de cursos de capacitação profissional à população carente do estado, com aulas de formação para cabeleireiros, cozinheiros e outros ofícios.
“O pilar central de uma política de superação bem-sucedida é a garantia do direito ao trabalho, que gera um processo de inclusão e de aumento do poder aquisitivo”, disse.
A fala em tom técnico colocou a primeira-dama em uma posição de contraste com a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, que na semana passada foi criticada por se manifestar durante um jantar com o presidente da China, Xi Jinping —críticas que resultaram em uma defesa pública de Lula a sua mulher.
O programa do governador, já detalhado pela Folha, depende de aprovação dos deputados estaduais, pois prevê um incremento de até R$ 500 milhões no orçamento da assistência social paulista.
O projeto dará complemento de renda às famílias mais carentes do estado e promete a oferta de diferentes serviços adicionais de assistência social, a depender da necessidade das famílias. Há previsão de um complemento aos valores pagos pelo Bolsa Família, além de bolsas específicas, que devem resultar em repasses de até R$ 10,4 mil por família ao longo de dois anos.
O governo afirma que os pagamentos terão início entre o segundo semestre deste ano e o primeiro semestre do ano que vem e irão perpassar o período eleitoral, mas refuta a ideia de que os repasses têm caráter eleitoreiro.