Às 6h30 de 6 de agosto de 1945, o coronel Paul Tibbets, pilotando o bombardeiro Enola Gay, avisou aos tripulantes: “Estamos transportando a primeira bomba atômica”. Às 8h15m a barriga do avião soltou o artefato e Tibbets afastou-se da cena.
A bomba explodiu 43 segundos depois, sobre Hiroshima, uma cidade plana, com milhares de casas de madeira. Ela produziu um clarão, carbonizando as pessoas que estavam saindo para o trabalho. Ainda hoje pode-se ver no museu da cidade, impressa num degrau de granito do banco Sumitomo, a sombra de uma pessoa que estava sentada ali. Foi o que restou dela.
Isso foi o que aconteceu há 80 anos. Passado o tempo, uma fotografia da explosão, autografada por cinco tripulantes do bombardeiro, valia menos que outra, com um simples autógrafo do almirante que comandava a frota americana do Pacífico. “Essa foto da bomba é politicamente incorreta”, explicava o gerente da loja de Nova York.
Esse tempo também passou. O politicamente incorreto dominou. Há dias o presidente Donald Trump mandou submarinos com ogivas nucleares para o litoral da Rússia. Se isso fosse pouco, um hierarca avisou que Moscou pode responder a um ataque com seu programa “Mão Morta”, graças ao qual as ogivas serão disparadas automaticamente. A cena de um bípede apertando um botão pode ser coisa do passado. Na guerra da Ucrânia, Vladimir Putin já insinuou que pode usar artefatos nucleares com objetivos táticos. Seriam bombas menos potentes que a de Hiroshima.
Em outubro do ano passado, o jornalista americano George Will escreveu que a Terceira Guerra Mundial já havia começado. Ele argumentava que a Segunda Guerra começou muito antes de setembro de 1939, quando Adolf Hitler invadiu a Polônia. O Japão invadiu a China em 1931, os alemães anexaram a Áustria e tomaram um pedaço da Tchecoslováquia em 1938.
Até aí, poderia ser conversa de jornalista, mas o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, já tratou do assunto em pelo menos três ocasiões. Em março, o porta-voz da diplomacia chinesa anunciou que seu país está pronto para “qualquer tipo de guerra”.
Noutra ponta da encrenca está Donald Trump. Seus conhecimentos de História são primitivos, porém inquietantes. Seu herói tarifário é William McKinley. Em 1898 ele dobrou a Espanha, tomou as Filipinas, transformou Cuba num protetorado e anexou o Havaí.
Generais e presidentes americanos que vencem guerras em geral se dão bem. Os Estados Unidos foram presididos por seis generais, todos saídos de eleições livres. (O Brasil teve nove, com apenas dois saídos de eleições livres.) A Segunda Guerra deu a Franklin Roosevelt dois de seus quatro mandatos e ao general Dwight Eisenhower, que comandou as tropas aliadas, mais dois. Theodore Roosevelt, sucessor de McKinley, ganhou fama tomando uma colina em Cuba. (Trump costuma posar na frente de um retrato dele, com farda feita na casa Brooks Brothers.)
Seguindo essa escrita, George Bush pai e Lyndon Johnson cavalgaram as guerras do Golfo e do Vietnã, mas caíram dos cavalos em 1992 e em 1968.
Trump já levou o mundo a uma guerra tarifária e pode estar namorando outra, que lhe permita batalhar por um terceiro mandato.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.