A prisão domiciliar determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes contra Jair Bolsonaro (PL) na última segunda-feira (04) mobilizou as redes sociais de forma favorável ao ex-presidente. Mais de 88% das mensagens virais nos grupos públicos de mensageria foram contrárias à prisão de Bolsonaro. As mensagens virais são aquelas que alcançaram o status de “encaminhado com frequência”.
Segundo dados da Palver, que monitora em tempo real mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram, nas mensagens orgânicas, o apoio a Bolsonaro ficou em torno de 65%. As mensagens virais, diferentemente das orgânicas, estão associadas a disparos dentro dos grupos e também ao comportamento robótico de usuários.
Apesar de a repercussão ter sido forte no ambiente digital, o número total de menções ao ex-presidente foi inferior a eventos como o de 18 de julho, dia em que houve busca e apreensão na casa de Bolsonaro, e em 19 de fevereiro, dia seguinte à formalização da denúncia pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Bolsonaro. O pico de menções no caso da prisão domiciliar foi alcançado na terça-feira (05), com pouco mais de 1.000 menções a cada 100 mil mensagens trocadas nos grupos públicos de mensageria.
Nas mensagens virais, uma das principais narrativas procurou associar a prisão de Bolsonaro à tentativa de “abafar” os chamados “Arquivos de 8 de Janeiro”, divulgados pelo jornalista americano Michael Shellenberger. Segundo as mensagens viralizadas, os documentos revelariam supostas ilegalidades praticadas por Alexandre de Moraes, como as ordens de prisão com base em postagens nas redes sociais. Esta narrativa foi impulsionada por figuras como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que acusaram o STF de censura, perseguição e uso político do sistema judiciário.
Nos grupos bolsonaristas, usuários começaram a retratar a Câmara e o Senado como os dois únicos Poderes que poderiam conter os “excessos” do STF. A obstrução promovida por deputados bolsonaristas foi tratada como um “ato legítimo”, enquanto as lideranças do Congresso foram alvejadas por narrativas que mesclam traição, omissão e covardia.
Hugo Motta e Davi Alcolumbre, presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, foram alvo de críticas duríssimas. Em grupos bolsonaristas, Motta é descrito como um político fraco, sem estratégia, enquanto Alcolumbre é acusado de barrar manobras como anistia ou abertura de impeachment. Ambos foram associados à “cumplicidade” com Moraes e ao enfraquecimento da direita no Congresso.
As críticas recaíram também ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que publicou uma nota na conta oficial do partido na plataforma X dizendo estar inconformado com a decisão de Moraes. A publicação foi respondida pelo deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), que chamou a nota de “imbecil”. Nos grupos, Valdemar foi acusado de se distanciar da base bolsonarista, e considerado um traidor em potencial.
Nikolas Ferreira tem sido uma das principais vozes da oposição e bastante crítico ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes. O parlamentar ganhou mais de 50 mil seguidores em sua conta no Instagram nos últimos dois dias. Uma de suas principais estratégias é fazer uso retórico para dar a entender que a decisão de Moraes se deu por motivo leviano, isolando-o do contexto judicial mais amplo que pesa contra o ex-presidente.
Apesar de nas conversas orgânicas a disputa de narrativas estar mais parelha, a base bolsonarista foi energizada com a decisão de Moraes e é motivada principalmente por um ressentimento contra o STF. Há uma forte expectativa de que uma ação mais contundente dos Estados Unidos possa reverter o jogo a favor de Bolsonaro. O desfecho da negociação do Brasil com o governo Trump pode tanto acalmar quanto acirrar os ânimos da política nacional.