O motim de bolsonaristas no Congresso Nacional e a presença dos camisas amarelas nas ruas de diversas cidades no último domingo (3), em número maior do que se imaginava, servem como aperitivo para um segundo semestre que se anuncia dos mais conturbados.
Tudo indica, afinal, que em menos de dois meses o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estará condenado pelo Supremo Tribunal Federal por participação na suposta trama golpista. A ira de seus aliados, expressa nos últimos dias nos plenários das Casas legislativas e nas manifestações pelo país, tende apenas a crescer.
Um efeito certo é a antecipação em um semestre do calendário eleitoral, com reflexos imediatos na produção legislativa de deputados e senadores.
Via de regra, o terceiro ano de uma legislatura —no caso, este que vivemos— é a última possibilidade de discussão de projetos relevantes antes do início efetivo da campanha eleitoral. Em 2026, salvo alguma matéria emergencial ou um improvável tema que una governo e oposição, nada de muito importante sairá do Congresso Nacional.
E a janela de votação neste segundo semestre de 2025, que já parecia estreita, começa a se fechar ainda mais.
Não é crível esperar que o “Occupy Congresso” dos bolsonaristas dure mais do que alguns dias (se tanto), mas a obstrução no Legislativo pode ser feita de diversas formas, autorizadas pelo regimento interno. Importa mais o clima político do que a invasão física das Mesas Diretoras.
O governo Lula, neste caso, é quem sofre mais, porque tem uma agenda ambiciosa que agora poderá estar em risco pelo clima conflagrado no Legislativo.
A maior aposta é a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 mensais, mas há também medidas como um novo e expandido auxílio-gás, além de ações para beneficiar entregadores por aplicativos e o fim da escala de trabalho 6×1. Se já eram temas controversos antes, serão ainda mais difíceis de serem aprovados agora.
A mão pesada do ministro Alexandre de Moraes, primeiro com a imposição de tornozeleira em Bolsonaro, e agora com sua prisão domiciliar, pode voltar como um bumerangue contra o governo Lula, depois de atingir seus alvos na direita alinhada ao ex-presidente.
O final deste ano, dessa forma, se consolida como um período pleno de campanha eleitoral, como se já estivéssemos em abril de 2026.
Um efeito colateral será forçar os principais campos a finalmente definirem seu rumo.
Se, na esquerda, Lula já cristalizou sua recandidatura (salvo por algum problema de saúde), a direita tem uma oportunidade para dar ao eleitor um pouco mais de clareza sobre seu projeto.
Isolado em sua casa, com saúde debilitada e um possível quadro depressivo, Bolsonaro dificilmente conseguirá sustentar por muito tempo a ficção de sua candidatura presidencial.
Paradoxalmente, é essa figura diminuída quem pode desatar o nó em seu campo ideológico. Em primeiro lugar, precisará decidir de uma vez por todas se indica Tarcísio de Freitas (Republicanos) como seu representante na urna ou se esse papel será de alguém que carrega o seu sobrenome.
Dessa definição depende o grau de fragmentação das forças anti-Lula na lista de candidaturas presidenciais, com a inclusão ou não de nomes como os governadores Ratinho Jr. (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União-GO) e Romeu Zema (Novo-MG), além, é claro, do próprio Tarcísio.
De agora até meados de setembro, prazo em que se estima que ocorrerá o julgamento de Bolsonaro, novas manifestações de rua devem ser promovidas, o que pode ensejar novas medidas de Moraes contra os apoiadores do ex-presidente, num ciclo vicioso sem data para terminar.
Salvo algum improvável recuo por parte do ministro do STF, talvez cedendo à pressão de alguns de seus pares, o cenário que está posto é de um ano inteiro de campanha eleitoral em alta voltagem. Certamente será uma das mais longas de nossa história.