“Aos 80, eu vou estar ótima!”, diz Vera Fischer

Vera Fischer não quer saber de polêmica. Em seu perfil no Instagram, compartilha fotos de trabalho, de suas manhãs com a cara lavada, dos seus gatinhos, imagens recentes e do arquivo de seus 56 anos de carreira. Responde pessoalmente às mensagens – só se abstém de retrucar os comentários negativos. “Não sou malcriada com ninguém”, diz Vera, em entrevista a ELLE por Zoom. Não dar corda para haters se mostra a estratégia mais sábia: nas redes sociais de Vera, eles são praticamente inexistentes.

Aos 74 anos, completados no final de novembro e comemorados em um jantar petit comité, Vera fecha 2025 com a sensação de dever cumprido e muitos planos para o próximo ano. Em dezembro, depois de muito gelo no joelho para aguentar cada maratona de 100 minutos em cena, encerrou a turnê da peça O casal mais sexy da América, ao lado de Leonardo Franco e Vitor Thiré. Dirigida por Tadeu Aguiar, a comédia baseada no texto do dramaturgo estadunidense Ken Levine foi vista por mais de 50 mil pessoas pelo Brasil.

Em março, Vera vai estar nas telonas, juntamente com Fernanda Montenegro e Ary Fontoura, em uma participação no filme Velhos bandidos, de Cláudio Torres. Também estará no streaming em 2026, no documentário Eternas, que está sendo preparado por Carla Camurati.

A atriz pensa ainda em se aventurar numa nova empreitada: dar palestras para mulheres, contando sua história de vida, falando sobre bem-estar, longevidade e outros assuntos. Vera, sem dúvida, tem muito a dizer, como você pode conferir na entrevista a seguir.

Vera, você está encerrando a turnê da peça O casal mais sexy da América, depois de ser assistida por mais de 50 mil pessoas. Como é isso? Dá uma tristezinha, uma saudade?
Ah, dá sim. Quando acabou aqui no Clara Nunes, eu dei uma choradinha, isso faz parte. Porque é um trabalho que você se entrega, né? De corpo e alma, você ensaia, joga o seu corpo. Eu tenho problemas nos joelhos, nas costas, e na hora que você sobe no palco, tudo desaparece, entendeu? Por uma hora e quarenta, você fica lá, anda de um lado, se joga, vai e vem. A gente está desde o começo do ano, viajando com essa peça e tal. Mas a gente sabe que um dia acaba. Então, assim, não sei definitivamente se ela vai realmente acabar por completo. Mas é o projeto dos produtores, assim, a princípio… Eles acham que com um novo patrocínio para fazer algumas capitais do Nordeste… Eu gostaria muito. São teatros muito grandes e os nordestinos são muito calorosos. Então, eu tenho muita vontade de fazer, sabe? Tomara que dê certo.

Seu plano, então, não é descansar depois da peça?
Não, não. Este ano, com certeza, acabou. Se rolar a nossa peça novamente, vai ser depois de março. Quando eles conseguirem um novo patrocínio. Agora, eu tenho muitos projetos à vista, né? Porque agora eu estou com o Vinícius (Vinicius Belo, RP de Vera Fischer), a gente se conhece há muito tempo e voltou a se encontrar. São coisas muito novas para mim. Não tem nada fechado, concreto.

Você pode adiantar alguma coisa, uma palhinha, do que pode vir por aí?
Olha, ele (Vinicius) quer muito me levar para falar em palestras mesmo com mulheres. Por causa da idade, porque eu ainda continuo trabalhando. E falar sobre os meus trabalhos, sobre a minha vida, sobre o bem-estar das mulheres nessa idade, entendeu? Porque eu acho que muita gente já não está mais muito bem. Então, às vezes, elas querem ouvir de uma outra pessoa o que ela está pensando de bom, de mau, quais os problemas que ela enfrentou para chegar até aqui, quais os cuidados que essa pessoa tem no dia a dia.

Aproveitando a deixa, como você se cuida, Vera? Ainda mais em meio a uma turnê, como você consegue se cuidar?
Eu tenho uma regra de exercícios físicos que eu tenho que fazer e eu faço no hotel. Aqui na minha casa, eu faço em casa. São os exercícios que dá para fazer até no camarim do teatro, coisas que a minha fisioterapeuta me ensinou. Eu chego no teatro muito antes da hora de começar. Então, uma meia hora antes, uns 40 minutos antes, eu boto dois sacos de gelo em cima dos joelhos e deixo lá uns 20 minutos. Quando eu tiro o gelo, passo um Gelol ou um Cataflã, alguma coisa, esfrego bastante, e depois boto o meu sapatinho de cena e ando pelo corredor, ou ando pelo palco, em algum lugar que eu possa fazer movimento para aquecer os joelhos e a coluna. Ando bastante, aqueço bastante, e quando a peça começa, eu não tenho dor nenhuma, porque o gelo amortece tudo e aí você está em movimento. Isso é uma regra geral que eu vou ter que seguir enquanto fizer teatro, para sempre, né? Isso tudo para evitar ter que operar. O meu médico já falou: “Não sei como é que você conseguiu ainda não operar, porque ninguém aguentaria essas dores que você está sentindo”. E eu sinto, realmente, todo dia, é uma coisa que não tem jeito. Enquanto eu conseguir andar, enquanto eu conseguir me movimentar, eu vou ficar sem operar. Porque eu não vou ter paciência de ficar dois meses, um mês de cama, um mês fazendo fisioterapia para melhorar, andando de muleta. Enquanto a gente puder evitar, a gente evita e faz os exercícios necessários. Ssou uma pessoa muito simples, não vou muito a médicos fazer procedimentos estéticos. Até gostaria de fazer, porque acho que me daria um ar mais fresco. Mas tenho um dermatologista maravilhoso, que é o Victor Bechara, e ele faz manipulados para eu usar no cabelo, para tratar a pele. Porque tenho a pele muito seca. As pessoas, depois de uma certa idade, ficam com a pele muito seca. Sou muito criteriosa nesse quesito. Eu acordo e lavo meu rosto com um sabonete especial para peles sensíveis e aí eu passo uma água (termal) que deixo na geladeira. Passo, deixo secar. Aí depois passo creme hidratante para o dia, para os olhos, para o pescoço. E no fim do dia, quando tiro a maquiagem, faço o mesmo procedimento, só que com cremes para a noite. Isso dá um trabalho, viu? Conheço muitas amigas atrizes que não fazem isso, chegam até a dormir de maquiagem. Deus me livre. Eu sigo as regras direitinho, porque não quero fazer muito Botox, não quero fazer essas coisas, entendeu?

Como é que você está se sentindo às vésperas do seu aniversário de 74 anos? (a entrevista foi realizada dias antes do aniversário da atriz, em 27 de novembro)
Gente, eu não sei. Antigamente, quando eu era mais jovem, eu adorava dar festas imensas para muitas pessoas. E eu fazia, sei lá, muita preparação, as festas e tal. Aí, com o tempo, você vai vendo que, às vezes, um jantar com poucas pessoas é mais gostoso. Então, o Vinícius está preparando uma coisa pequena para a gente. Lá no Hotel Fairmont, com meus amigos mais chegados, entendeu? Uma coisa, assim, gostosa, porque a gente está no verão agora. À beira da piscina. Eu fico um pouco com medo e um pouco angustiada, porque… Não sei se isso é um inferno astral que rola. Ou se é mais um ano que está passando, né? Daqui a pouco, vou estar fazendo 80. Daqui a pouco, porque o tempo passa voando, né? Porque depois dos 70, é tudo assim. (Vinícius Belo comenta que ainda faltam seis anos para os 80, que é muita coisa) Mas eu gosto de números redondos. 70, 80, 90, 100.

No ano que vem você faz 75, que é um número bem importante, né?
É. Dependendo de como você está e o que você está fazendo, se você está trabalhando, se você está ativa, qualquer ano é importante, né? Ano passado eu até trabalhei mais do que esse ano. Mas o mais também é um exagero, às vezes. De repente, você está fazendo a peça e está fazendo um filme nos dias de folga. Aí você não tem folga nenhuma. É mais chato, é mais complicado. Este ano, pelo menos, eu pude me dedicar mais à peça. Agora, vamos ver. Tem muitas ideias para comerciais, para esses diálogos com as pessoas, congressos. Tem filmes, tem uma outra peça… Eu nunca fiz, por exemplo, um monólogo. E eu tenho vontade de fazer um monólogo. Uma ideia grandiosa, assim, muito fodástica, falando de uma mulher muito poderosa, assim, entendeu? Falando sobre essas coisas. Sobre por que, por exemplo, uma mulher deve ser culpada pelas guerras dos homens, entendeu? Por exemplo, a Helena de Troia. Então, assim, temos muitas ideias. E tem algumas coisas que eu fiz que vão ser lançadas agora em 26 também. Um projeto com a Carla Camurati, que se chama Eternas, que são entrevistas com… Acho que com umas quatro atrizes, quatro ou cinco artistas de idade. E eu sou uma delas. (Vinicius complementa: “Mulheres eternas. Mulheres que são eternizadas. Tem a Vera, tem a Alcione, Zezé Motta e a Beth Faria. É para o streaming, Universal Plus.”) Eu não vi nada ainda, porque ela está editando, está montando. É como se fosse um seriado. E tem também filme que eu fiz uma participação com a Fernandona (Fernanda Montenegro) e Ary Fontoura, Velhos Bandidos. Eu faço uma cientista que ajuda a construir um cofre para eles roubarem. É uma comédia.

Foto: Hugo Barbieri

Do que você mais gosta da maturidade?
Cara, assim, agora eu estou morando completamente sozinha, só com os meus gatos. Então, eu acho isso muito bom. Antigamente, eu não conseguiria morar sozinha. Não conseguiria, porque tinha muita gente na minha casa. Eu morava no Leblon, numa cobertura muito grande. Então, tinha muitos empregados o dia inteiro andando para lá e para cá. Meus dois filhos moravam comigo. Aí, tinha os amigos dos meus filhos. Meus filhos, os meus amigos. Era muito movimentada a minha vida, além do trabalho, né? Então, agora, o que eu estou gostando é dessa tranquilidade de poder morar sozinha. De não ter gente andando pela casa o dia inteiro. Entendeu? Tem dias que eu não faço nada, que eu fico com os gatos, com as plantas. Fico vendo um filme, uma série. Eu não conseguia fazer isso, antigamente. Não dava tempo. Isso a maturidade traz. E você tem que saber aproveitar. Porque, também tenho que falar, eu tenho muitos defeitos. Eu sou uma pessoa ansiosa ao extremo. Hoje, por exemplo, eu tive que cortar as unhas dos gatos. Foi dificílimo, porque eu tenho um gato que é muito agressivo. Aí eu fico nervosa, mas assim… Eu tento, à medida do possível, controlar essa minha ansiedade, esse meu nervosismo. Tem momentos que fica difícil, mas vou melhorar. Aos 80, eu vou estar ótima!

Nessa fase nova da vida, então, o que é uma noite ideal para você?
Eu acho sempre gostoso sair para jantar com os amigos, assim, com poucos amigos. E conversar, né? Conhecer melhor as pessoas. Ter uma intimidade. Quando você conhece pessoas novas, assim, demora um tempinho para você ter essa intimidade. Porque antigamente você tinha que dar atenção para muita gente. E uma coisa que eu nunca tinha feito na minha vida é cozinhar. E estou cozinhando e gostando. Não tudo, porque tudo não consigo. Mas salada, por exemplo, eu adoro. Então, fico inventando coisas que eu gosto de comer e me fazem bem.

Em entrevistas recentes, você comentou que estava solteira e que estava bem assim. Continua desse jeito?
É, assim… Eu acho muito gostoso e muito charmoso você flertar. Por exemplo, no outro dia, eu estava com a peça em São Paulo e fomos num restaurante tailandês que a gente frequentava. Aí, tinha um rapaz muito mais novo do que eu, que ficava me olhando sem parar. Aí, eu ficava olhando para ele também sem parar. As pessoas do meu lado diziam assim: ‘Esse rapaz vem falar com você’. Eu falei: ‘Não, não vem não’. E, realmente, quando ele levantou, saiu, ele cumprimentou e disse: “Muito prazer. Gosto muito de você”. E aí, ele deu um tchauzinho assim. Eu achei tão gostoso aquilo! Porque era diferente de ser fã. Foi diferente de ser fã.

É, você sabe, né? Dá para sentir.
Era um admirador mesmo. E ele fez exatamente o que eu queria que ele fizesse: que ele não se aproximasse mais, entendeu? Foi até o ponto certo. E isso eu acho muito gostoso. Isso eu acho… Porque, assim, a pessoa está me vendo… Sabe que é Vera Fischer, mas está vendo com os olhos diferentes de um fã, entendeu? Aí, é gostoso também.

Você já contou que só teve celular a partir de 2020 e agora já está súper à vontade com as redes sociais e tal. Como se adaptou a esse uso?
É, na verdade, é assim: eu tive que ter um celular em 2020, porque era carnaval e eu ia para Nova York. E o meu filho (Gabriel), que morava comigo, ele falou: “Mãe, desta vez você vai viajar com celular”. Eu falei: “Para quê? Eu ligo do hotel, não sei o quê”. Ele falou: “Está doida, mãe? Você está viajando com os seus amigos. Todo mundo tem celular, você tem que ter celular”. Eu falei: “Mas eu não vou saber usar”. Ele falou: “Se vira”. Aí, assim, ele me ensinou o óbvio, o mais normal, que era ligar, desligar. E, mesmo assim, eu fiz muita confusão, mas aí comprei o celular, levei o celular para Nova York. Eu sempre fui contra o celular. Eu falava assim: “Ah, o celular, as pessoas vivem com aquilo na mão, respondendo, falando. Acho chato, todo mundo te acha, todo mundo quer falar com você”. Aí eu tinha o telefone fixo, que era prático, porque as pessoas deixavam mensagem, eu ligava de volta se eu queria. E eu tinha umas bolsinhas de grife bem pequenininhas. Como é que eu vou sair com essa bolsa? O celular não vai caber. Aí eu aprendi a comprar bolsas maiores, né? E aí eu fui aprendendo a lidar com o celular, mexendo aqui e ali, e aprendendo a tirar foto sozinha. Sei que eu aprendi a lidar com ele.

E você responde pessoalmente aos comentários no seu Instagram?
Eu respondo pessoalmente, porque eu acho que… Muitos fãs-clubes abriram na pandemia por conta disso, inclusive, de eu responder, entendeu? E também pessoas muito jovens, porque a Globoplay começou a mostrar as novelas antigas que a gente fez e essas pessoas começaram a adorar o meu trabalho. Aí abriram-se fãs-clubes e eu fiquei muito feliz com tudo isso. E essas fãs vão me ver no Sul, no Norte, em São Paulo, no Rio. É muito legal. Eu acho que deu muito certo essa coisa de redes sociais.

E tem comentários ruins?
Não, não tem. Eu acho que pode ter tido algumas vezes, mas, assim, eu nunca… Nunca respondi. Sabe, eu não sou essa pessoa, essa artista que pega o celular e faz uma resposta, cria polêmicas, sabe? Como muitas que a gente conhece fazem. Tem gente que se alimenta disso. Fala do ex-marido, fala de problema de pensão, fala de… Aí as pessoas ficam respondendo e se agredindo verbalmente pelo Instagram, entendeu? Pelas redes sociais. Eu nunca fiz isso. Eu nunca respondi a ninguém. Eu falo as minhas coisas. Eu tenho agora essa equipe do Vinícius que está me ajudando muito. A gente só fala coisas de trabalho, da minha vida pessoal, de como as coisas estão andando. E nunca, nunca, nunca, nunca respondi a ninguém. Nunca fui malcriada com ninguém. Muito pelo contrário. Eu acho que é tudo muito amoroso.

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Foto: Hugo Barbieri

Vera, quando você era criança, adolescente, você imaginava como ia ser aos 70 e poucos anos?
Não, não. Nunca me imaginei. Eu nunca pensava, sabe, no futuro, assim. Naquela época eu ainda morava em Blumenau. Meu pai tinha uma loja com tecidos, roupas, sapatos, coisas, bijuterias e tal. Era moda o Swinging London. Então, assim, tinha Mary Quant, com aquelas minissaias. E a costureira da minha mãe fazia roupas incríveis para mim. Eu cortei meu cabelo curtinho, igual a Twiggy (modelo icônica dos anos 1960). Todo domingo, eu e minhas amigas, a gente ia pro cinema, que era o que a gente tinha para fazer naquela cidade, né? Era ir aos cinemas aos domingos e depois ir para o melhor hotel tomar um café da tarde. Todo domingo eu tinha um vestido diferente, novo. E eu fazia aula de francês e de inglês. Eu pegava essas revistas de moda emprestadas, copiava as roupas e mandava a costureira fazer. Os anos 60 e 70 foram muito assim.

Falando um pouquinho de moda, então, como você acha que evoluiu o seu estilo?
Quando eu tinha 16 anos de idade, eu tinha seis perucas porque era moda naquela época. Usava peruca curta, uma comprida, uma peruca tipo Caetano Veloso com florzinha no cabelo, pantalona. Eu usava aqueles tamancos do Dr. Scholl, gente. Eu achava o máximo aquilo. E as mulheres muito glamurosas não usavam. Mas eu achava o máximo aquilo. Era meio hippie, sabe? Era um hippie chic. Hoje, assim, eu não copio a moda. Eu acho que… Ou eu vou antes ou eu vou depois, sabe? Eu não gosto de fazer exatamente o xque as pessoas estão fazendo nesse exato momento. Não gosto de copiar. Ou e faço antes, muito antes, ou deixo passar o lance das pessoas. Aí eu vou e faço do meu jeito.

Créditos:
Styling: Milton Castanheiras
Beleza: André Florindo
Trench coat, Welson Prado. Colar, Sara Joias. Anéis, Iara Figueiredo