Tim Wu é professor da faculdade de direito de Columbia, nos EUA. É referência quando o assunto envolve tecnologia e economia. Chegou inclusive a trabalhar na Casa Branca com temas de antitruste.
Ele acaba de escrever um dos artigos mais importantes para pensar a inteligência artificial hoje, publicado pelo Financial Times. No título, ele pergunta: “Os EUA podem ganhar a corrida da IA e mesmo assim perder a guerra?”. No caso, “a guerra” diz respeito à China.
O argumento tenaz e inarredável que Tim Wu traz no seu artigo é: os Estados Unidos estão 100% investidos no sucesso da inteligência artificial. Nunca na história do país houve uma aposta tão gigantesca em uma única tecnologia. Estamos falando de investimentos com potencial de ultrapassar US$ 1 trilhão. É mais do que a humanidade gastou para ir à Lua, criar a bomba atômica e desenvolver a internet, somados.
A aposta dos EUA é de que ao assumir a liderança da inteligência artificial, tanto em infraestrutura como na chamada “superinteligência”, isso seria capaz de destravar uma bonança econômica jamais vista, permitindo à humanidade não só resolver todos os seus gargalos (energia, medicamentos, comida e outros) como também conquistar os planetas (essas palavras grandiosas vêm de textos de personalidades do Vale do Silício).
A estratégia lembra um famoso episódio da série South Park. Nele, os gnomos criam um plano de negócios para enriquecerem em três etapas. A primeira é coletar todas as cuecas da humanidade. A segunda é um ponto de interrogação. E a terceira é o lucro. Tal como a série, entre a inteligência artificial e o lucro existe hoje um enorme ponto de interrogação.
É nesse momento que Tim Wu olha para a China. Ao contrário da percepção mais comum, o país não está 100% investido em IA, como os EUA. Ao contrário. Os investimentos chineses na área são relativamente modestos, na casa de US$ 100 bilhões. A aposta chinesa está em vários setores distintos. O país está colocando suas fichas em veículos elétricos (em que domina 70% da produção), painéis solares (85% de domínio) e baterias (75% da produção).
Mesmo incluindo a IA, a aposta chinesa não é a superinteligência. É a eficiência. Enquanto os EUA buscam fenômenos da ficção científica como a “singularidade”, os chineses querem que a IA seja capaz de melhorar a eficiência produtiva: plantas industriais, robôs, veículos, comércio e outros setores da economia real.
Tim Wu reconhece com habilidade no artigo que entre a visão chinesa e a dos EUA ainda não há vencedores. Até agora o mercado de capitais tem premiado quem investiu em IA no modelo americano, por exemplo.
Se a aposta dos EUA estiver correta, de fato o prêmio na mesa é a supremacia. Não só econômica, mas militar, científica e além. Quem duvida poderá “pagar língua”.
Mas o fato é que tudo isso lembra o artigo que escrevi em agosto de 2024 aqui na Folha: a economia global está se tornando uma grande “bet” planetária. O que antes entendíamos como investimento, vira progressivamente só aposta. Indivíduos, empresas e agora países passam a assumir riscos existenciais, colocando tudo na mesa. Os dados estão lançados.
Já era – um tempo em que a palavra bet significava um jogo de taco jogado na rua
Já é – a palavra bet em toda parte
Já vem – a lógica das ‘bets” dominando segmentos cada vez maiores da economia
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