A Samsung produzirá sensores de imagem digital para a Apple, no mais recente sinal de que as empresas de tecnologia sul-coreanas estão começando a colher os benefícios de uma série de investimentos nos EUA e das políticas tarifárias agressivas do presidente Donald Trump.
A fabricante do iPhone disse nesta quarta-feira (6) que trabalhará com a instalação de semicondutores da Samsung em Austin, Texas, “para lançar uma nova tecnologia inovadora para fabricação de chips, que nunca foi usada antes em nenhum lugar do mundo”.
Embora as empresas não tenham especificado a tecnologia a ser implantada, pessoas familiarizadas com o acordo disseram que a fabricante de chips sul-coreana produzirá um sensor de imagem empilhado de três camadas —usado em câmeras de smartphones para capturar imagens— para o iPhone 18 da Apple, com lançamento previsto para o próximo ano.
“Ao trazer esta tecnologia para os EUA primeiro, esta instalação fornecerá chips que otimizam a energia e o desempenho dos produtos Apple, incluindo dispositivos iPhone enviados para todo o mundo”, disse a Apple em um comunicado.
O acordo faz parte de um plano anunciado na Casa Branca pelo CEO Tim Cook para aumentar os investimentos da Apple nos EUA em US$ 100 bilhões. Foi revelado no mesmo dia em que Trump prometeu impor uma tarifa de 100% sobre chips para os EUA. No entanto, ele acrescentou que empresas como a Apple que investiram nos EUA poderiam evitar as novas tarifas.
A Samsung e a rival sul-coreana SK Hynix estão investindo bilhões de dólares em instalações de fabricação avançadas nos EUA. O ministro do Comércio da Coreia do Sul, Yeo Han-koo, disse nesta quinta-feira (7) que os dois fabricantes de chips de memória não estariam sujeitos a tarifas de 100%, e que os chips sul-coreanos “não receberiam tratamento injusto em relação a outros países” como parte de um acordo comercial firmado entre Seul e Washington na semana passada.
Lee Jong-hwan, professor de engenharia de semicondutores na Universidade Sangmyung em Seul, disse: “A Samsung parece ter conquistado este acordo com a Apple por causa das tarifas iminentes sobre chips estrangeiros”.
Ele observou que o acordo significa que a Sony, cujos sensores de imagem são produzidos sob contrato pela TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company) em Kumamoto, Japão, não seria mais a única fornecedora da Apple para essa tecnologia.
“A Apple terá preferido a Samsung em vez da Sony porque a Sony não tem fábricas nos EUA”, disse Lee. “A Sony e outros fabricantes de chips japoneses começarão a sofrer um revés quando as tarifas forem impostas. A estratégia da Samsung de expandir a capacidade nos EUA está dando resultado”.
A Sony disse em um comunicado: “Continuamos confiantes de que estamos avançados no fornecimento de tecnologia de sensores para nossos clientes, e vamos nos concentrar em continuar o avanço tecnológico através de sensores de maior tamanho e densidade”.
O grupo japonês na quinta-feira reduziu o impacto estimado das tarifas neste ano fiscal de 100 bilhões de ienes (US$ 680 milhões) para 70 bilhões de ienes.
O acordo da Samsung com a Apple também marca uma reconciliação entre os dois grupos de tecnologia após uma separação acrimoniosa na década de 2010 devido a disputas de patentes.
A Apple abandonou a Samsung como sua principal parceira de fabricação de chips por contrato em favor da TSMC, uma decisão amplamente considerada como um catalisador para o declínio da fortuna da Samsung em chips na última década.
Mas analistas disseram que o acordo de sensor de imagem representava o mais recente sinal de uma recuperação, após um acordo de US$ 16,5 bilhões anunciado na semana passada para a Samsung produzir chips de inteligência artificial para a Tesla em sua fábrica em Taylor City, Texas.
“Não é um acordo de grande porte, mas ainda é significativo que a Samsung tenha se tornado outro fornecedor para a Apple além da Sony, que era a única fornecedora de sensores de imagem da Apple”, disse Pak Yuak, analista da Kiwoom Securities. “Este acordo aumentará a taxa de operação da fábrica da Samsung nos EUA e ajudará a reduzir suas perdas em fundição”.
Com reportagem adicional de David Keohane em Tóquio