A aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, anunciada pelos Estados Unidos na semana passada, provocou um novo pico de mobilização nos grupos bolsonaristas de WhatsApp e Telegram. O fato serviu para unificar a narrativa bolsonarista nas redes, principalmente após algumas semanas em que o tarifaço de Trump contra o Brasil havia provocado um racha no grupo e dividido opiniões.
De acordo com análise da Palver, que monitora em tempo real mais de 100 mil grupos públicos de mensageria, a última semana foi marcada por uma grande quantidade de mensagens comemorando a decisão, associando-a à “queda do sistema” e convocando as pessoas para que comparecessem às manifestações que ocorreram no domingo (3) em diversas cidades do país.
Apesar da unificação do discurso e do “inimigo externo” bem definido na figura do ministro Alexandre de Moraes, os dados mostram uma disputa interna pelo controle da narrativa. Eduardo Bolsonaro busca o protagonismo e recentemente entrou em embate direto contra figuras da direita que tentaram se sobressair em meio à crise das tarifas, como aconteceu com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Um dos vídeos de maior circulação traz Eduardo Bolsonaro acusando o deputado Nikolas Ferreira de não fazer suficiente para dar visibilidade à causa que defendem —anistia ampla aos condenados do 8 de Janeiro. Mas Eduardo não tem sido unânime no campo da direita, pelo contrário, houve uma forte reação negativa à investida empreendida pelo parlamentar licenciado contra a comitiva de senadores brasileiros que foi aos Estados Unidos com o objetivo de negociar as tarifas impostas por Trump contra o Brasil.
Ao lado do influenciador digital Paulo Figueiredo Filho, Eduardo Bolsonaro tem defendido que qualquer negociação das tarifas contra os produtos brasileiros deve estar associada à aprovação de uma anistia ampla e irrestrita a todos os envolvidos nos ataques de 8 de Janeiro. Esse entendimento não é compartilhado com diversos setores da sociedade que têm trabalhado para negociar com o governo Trump seja isenção de produtos, seja redução das taxas. Na última quarta-feira (30), o decreto oficial trouxe uma lista de quase 700 produtos brasileiros isentos do tarifaço.
Nikolas Ferreira também se destacou ao longo da última semana. A participação do parlamentar no podcast Flow fez com que as menções ao seu nome atingissem o pico na última sexta-feira (1º), dia seguinte à participação no podcast. Em quase duas horas de programa, Nikolas se defendeu das acusações de oportunista e procurou se reforçar como um líder da direita, esquivando-se do rótulo limitado de líder dos jovens conservadores, argumentando que seus apoiadores são de diferentes grupos etários e sociais.
Nos grupos de mensageria mais ligados ao bolsonarismo, Nikolas ganhou a alcunha de “Pinikolas Iscariotes”, em meio a críticas de que apenas se pronuncia quando lhe é conveniente, e também de não aderir ao bolsonarismo, entendido nesse caso como campo de representação da direita. Fora das redes sociais, contudo, a direita procura mostrar união. Na manifestação do domingo, na avenida Paulista, Nikolas Ferreira foi um dos protagonistas e realizou uma chamada de vídeo com o ex-presidente Jair Bolsonaro, em uma tentativa de demonstrar apoio e reduzir o discurso de uma possível ruptura na direita.
A Lei Magnitsky aplicada contra Alexandre de Moraes foi um dos feitos mais celebrados dentro do bolsonarismo ao longo do ano e uma das pautas com maior capacidade de unificação da narrativa. Ainda assim, apesar da aparente pacificação entre líderes da direita, os ataques observados nos grupos públicos de mensageria ao longo da última semana expõem um contexto de forte pressão interna e que deve produzir repercussões no xadrez da política nacional.
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