O Palácio do Planalto tem orientado integrantes do governo Lula (PT) a adotarem uma reação discreta à prisão de Jair Bolsonaro (PL).
O ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência, Sidônio Palmeira, procurou colegas na segunda-feira (5) para recomendar uma postura de cautela com o objetivo de não alimentar o que seria um discurso de vitimização de Bolsonaro nem impulsionar a narrativa propagada por aliados do ex-presidente de que ele é perseguido politicamente.
Essa também foi a orientação dada a integrantes do governo que procuraram Sidônio buscando recomendações.
Além disso, há uma avaliação de que é preciso baixar a temperatura política para evitar qualquer nova indisposição com o governo dos Estados Unidos neste momento, às vésperas da implementação da sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros anunciada por Donald Trump.
Como a Folha mostrou, integrantes do governo já admitem a possibilidade de a decretação da prisão domiciliar do ex-presidente ser usada por Trump como pretexto para obstruir negociações e até mesmo impor novas sanções ao Brasil.
Auxiliares de Lula dizem que é necessário evitar ampliar os problemas com Trump neste momento e que esse caminho passa também por não dar novos pretextos que o americano possa usar como justificativa para eventuais novas ações contra o Brasil.
Na segunda, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes determinou a prisão domiciliar de Bolsonaro. O magistrado afirmou que o ex-presidente descumpriu determinação anterior ao aparecer em vídeos exibidos por apoiadores durante manifestações no domingo (3). Bolsonaro estava proibido de usar redes sociais, mesmo que por intermédio de outras pessoas.
Essa é a mesma linha adotada pelo Planalto depois da decisão do STF de colocar uma tornozeleira eletrônica no ex-presidente.
Dois ministros ouvidos pela reportagem, sob reserva, avaliam que Bolsonaro teria provocado a própria prisão com o descumprimento intencional das medidas determinadas por Moraes anteriormente, numa tentativa de acirrar ainda mais o ambiente político.
O objetivo, segundo a leitura de integrantes do governo Lula, seria a mobilização da militância de direita e reforçar a tese de que o ex-presidente seria perseguido politicamente diante de sua iminente condenação no caso da trama golpista.
Nesse sentido, lulistas dizem que o governo não deve entrar nesse ambiente nem se posicionar acerca do caso. Segundo eles, qualquer movimento para explorar a prisão politicamente deve ficar restrito à militância —e não aos integrantes da Esplanada dos Ministérios.
Eles dizem ainda que é necessário focar a redução da temperatura política e não se envolver no assunto, já que isso compete ao ex-presidente e à Justiça brasileira.
Eles também dizem que é preciso centrar esforços nas negociações com os EUA sobre as tarifas, que entram em vigor nesta semana. Os dois ministros dão como certo que o americano usará a prisão de Bolsonaro para novas ações contra o Brasil.
Nas palavras de um aliado de Lula, o leite já foi derramado e é preciso evitar qualquer gesto que possa gerar mais ruídos com Trump. Ele enxerga um cenário radicalizado dos dois lados (bolsonarismo e Suprema Corte) e afirma que o melhor para o governo é não se envolver diretamente.
Um governista afirma ainda que havia uma melhora do cenário, diante do recuo de Trump com a lista de quase 700 produtos que entraram nas exceções do tarifaço e da avaliação de que Lula saiu fortalecido eleitoralmente do embate com o americano, e que é necessário trabalhar para que isso não seja diluído com a prisão de Bolsonaro.