O ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) tem acumulado sinais de que topa ser candidato a governador de Minas Gerais como aliado do presidente Lula (PT), que concorrerá à reeleição em 2026. Além de pressionado pelo próprio petista, Pacheco tem sido incentivado pelo atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Meses atrás, ao deixar o comando do Senado, Pacheco rejeitava a candidatura quando questionado por interlocutores. A rejeição incomodava aliados de Lula. O petista precisa de um candidato a governador forte para ajudá-lo a fazer campanha no estado.
Agora, o senador tem comentado em conversas reservadas sobre a necessidade de uma frente ampla e afirmado que decidirá seu futuro neste segundo semestre. A ideia seria se preservar e ganhar tempo para fazer uma avaliação de cenário mais próxima da eleição.
A montagem de palanques em Minas Gerais é parte de um xadrez estratégico para os principais grupos políticos do país. O estado é o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, com mais de 16 milhões de eleitores em disputa.
Um dos primeiros movimentos do senador identificados como sinal de que ele pretende se candidatar está nas redes sociais. Pacheco, cujo mandato no Senado se encerra em 2026, tem publicado diversos vídeos sobre entregas de máquinas a prefeituras.
Pacheco ainda tem comparecido a cerimônias, em Minas e em Brasília, relacionadas a obras no estado, além de acompanhar Lula em viagens.
Na quinta-feira (24), participou de ato com o presidente em Montes Claros. Discursou depois de todos os ministros presentes, antes apenas de Lula, e deu declarações que o aproximam do eleitorado petista.
Ele mencionou os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, criticou a possibilidade de anistia aos acusados de participação no episódio, falou em defesa da democracia e acenou a estudantes, professores e movimentos sociais.
Também disse que estará junto com Lula na próxima eleição e que o presidente da República garante a soberania nacional. O tema tem sido recorrente nos discursos governistas desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou sobretaxa de 50% a produtos brasileiros e vinculou a sanção ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A pressão pela sua candidatura tem ocorrido no privado e também em público. No fim de junho, Lula disse em entrevista que Pacheco é “um grande nome” para concorrer à eleição.
Reservadamente, interlocutores afirmam que o ápice dessa pressão ocorreu em março, quando o senador viajou para a Ásia com Lula e outros políticos. Parte dos passageiros do avião presidencial entendeu, das conversas, que Pacheco havia confirmado o interesse em concorrer.
Quando chegou ao Brasil, o senador disse a aliados que nunca havia sido tão apertado. Deu a entender que não tinha respondido definitivamente a ninguém.
Além de viagens, Lula recebeu Pacheco para uma conversa em Brasília dias antes do início do recesso parlamentar.
Davi Alcolumbre também demonstra, nos bastidores, entusiasmo com a possibilidade da candidatura de Pacheco, um de seus aliados mais próximos.
O presidente do Senado é do Amapá e tem poderes reduzidos sobre a política mineira, mas desperta em aliados de Pacheco a esperança de ter o apoio do União Brasil em uma eventual candidatura. O atual presidente do Senado é um dos nomes mais influentes do partido.
Com as sinalizações de Pacheco, o grupo político de Lula começa a avaliar candidaturas ao Senado. A prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), tenta colocar o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) de volta na órbita de Lula para concorrer a uma das duas vagas que estarão em disputa.
A própria Marília é um nome mencionado por dirigentes petistas, mas ela não pretende deixar a Prefeitura de Contagem para disputar a vaga.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), disse à Folha que gostaria de ser candidato a senador. Também são especulados nomes como os deputados federais Reginaldo Lopes (PT) e Mário Heringer (PDT).
O presidente da República já indicou a dirigentes do PT e aliados de outros partidos que aceita se associar a uma chapa sem petistas em Minas Gerais se isso for necessário para garantir um apoio mais forte no estado à sua candidatura presidencial.
Integrantes da cúpula do PT demonstram estar conformados com a hipótese, mas fazem ponderações. Uma chapa com Pacheco, Kalil e Silveira, por exemplo, seria muito conservadora e teria dificuldades para ser aceita pelos petistas.
Outro complicador é o fato de o PSD de Silveira e Pacheco ser um dos principais partidos da base do governador Romeu Zema (Novo), adversário de Lula. Petistas avaliam que, no limite, o comportamento da legenda no estado poderá até inviabilizar uma candidatura de Pacheco ou forçá-lo a procurar outra sigla.